Werner Haberkorn: postais de São Paulo e a Fotolabor
    Av. Sao Joao. Decada de 50.
    Av. São João, vista em direção do Vale do Anhangabaú a partir de ponto próximo ao Largo do Paissandú. Década de 1950.

    Volta!




























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    Werner Haberkorn, fotógrafo falecido em junho aos 90 anos, é um nome pouco conhecido fora do círculo de seus clientes e colaboradores. No entanto, a marca Fotolabor identifica um dos editores de postais de grande atividade em São Paulo nos anos 50. A presença constante de exemplares em coleções de cartofilia representa apenas uma parcela das diversas atividades desenvolvidas pelo profissional.


    Um anúncio da empresa de 1955, nas Páginas Amarelas, registra com perfeição as várias áreas de atuação: Revelações - ampliações - cópias coloridas - retoques para clichés - fotografias para indústria e comércio, propaganda e catálogos. Reportagens fotográficas, reproduções de documentos, plantas, desenhos... Fotógrafo industrial, editor de postais, e os demais itens ilustram antes de tudo uma configuração típica adotada pelos profissionais paulistanos desde os anos 20 em seus estúdios.

    Haberkorn, nascido em 12.03.1907 na Alta Silésia, região que integrava então a Alemanha, conviveu com a fotografia desde sua infância, acompanhando seu pai como fotógrafo amador, do qual adota o hobby. Em 1936, o jovem diplomado em engenharia de máquinas visita o Brasil. Seu objetivo era documentar as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. As imagens realizadas serviriam para ilustrar palestras que proferirá a seguir na Alemanha para a comunidade judáica decidida a deixar o país em função do governo nazista.

    Em 1937, Werner retorna ao Brasil, onde se estabelece, atuando inicialmente como representante comercial de empresas alemãs. No ano seguinte, seu irmão Geraldo diploma-se na Alemanha em fotografia e, em 1939, migra também para o Brasil, já como representante do sistema de fotocromia Bermpohl. Geraldo, que após a chegada em São Paulo trabalhará por um período na Fotóptica, associa-se em seguida ao irmão criando a Fotolabor (1).

    Estabelecidos na Avenida São João, próximo a praça do Correio, atuam em áreas como fotocópias, fotografias em porcelana e produzindo imagens para catálogos de empresas industriais e comerciais. O mercado de fotocópias tornava-se gradativamente uma fonte de renda importante, no qual tomará parte nos anos seguintes um dos segmentos da família Arroyo, proprietária da Cinótica.

    Essa configuração adotada por empresas fotográficas na primeira metade do século reflete as dimensões do mercado e as sazonalidades de cada segmento. Alguns estúdios especializados, por exemplo, em retratos para formatura, um nicho promissor para vendas, tinham necessidade de contrabalançar a concentração de pedidos no segundo semestre atuando em outros setores. A produção de catálogos industriais e comerciais apresentavam, segundo depoimento de Werner Haberkorn, uma concentração de pedidos entre fevereiro e agosto. A variação no múmero de serviços de laboratório por sua vez obedecia a outro padrão.

    No início dos anos 40, a Fotolabor passa a editar postais. Primeiro, da forma usual, em cópias fotográficas. A formação técnica como engenheiro de máquinas permitiu que Werner desenhasse seus equipamentos para processamento automático. A demanda cresceu e permitiu empregar até 40 funcionários entre fotógrafos, laboratoristas e operadores. Os temas eram cenas urbanas do Rio de Janeiro e São Paulo, hotéis e estâncias, artistas e futebol. Estes dois últimos itens indicam como o formato postal ganhava espaço como veículo de apoio a grandes esquemas de entretenimento.

    O mercado de postais ao final dos anos 40 apresenta-se, aparentemente, em expansão refletindo o crescimento da cidade de São Paulo, centro industrial e migratório em desenvolvimento. A concorrência exige assim a adoção contínua de novos diferenciais. Ainda nos anos 40, Werner, por exemplo, passa a oferecer séries de vistas aéreas da cidade.

    Com a crescente concorrência passa também a adotar novos formatos para edição de postais como albuns impressos coloridos em formato leporello (sanfonado) como em exemplares realizados em meados dos anos 50. A edição de postais foi mantida até o final da década , quando o mercado já havia abandonado a produção em cópias impressas em off-set.







    Capa de álbum leporello, editado nos anos 50.
    Monumento às Bandeiras, no Parque do Ibirapuera.
    Album de postais





    Embora sejam freqüentes postais da Fotolabor em coleções particulares, essa produção industrial não parece refletir adequadamente as qualidades do fotógrafo Werner Haberkorn. Certamente, com o aumento de escala de produção, a empresa passa em alguns segmentos a adquirir fotos de outros profissionais como no caso de imagens de futebol, geralmente produzidas por repórteres fotográficos.

    O conjunto remanescente, em posse da família, reune exemplares das séries de postais em grande formato (18 x 24 cm). Algumas imagens ainda da década de 40 surpreendem pelo interesse em cenas cotidianas banais como a banca de jornais (numa imagem similar a de Hildegard Rosenthal que integra a Coleção Pirelli/MASP deste ano) ou a fila de ônibus. Por outro lado, chama a atenção um tratamento diferenciado nos enquadramentos que lembra algumas produções de tratamento moderno realizadas pela Escola Paulista, movimento surgido ao redor do FCCB - Foto Cine Clube Bandeirante.

    No entanto, provavelmente obedecendo às regras do mercado de postais, essas imagens irão desaparecer nas séries seguintes. As vistas aéreas realizadas nos anos 50, analisadas em cópias de trabalho, de qualidade extremamente superior ao material impresso, revelam uma produção elaborada, como nestes exemplares registrando o Parque do Ibirapuera e o Vale do Anhangabaú. O conjunto remanescente inclui também vários modelos de álbuns de pequenas dimensões com imagens urbanas, bem como uma série de fotografias panorâmicas realizadas nos anos 50, entre as quais a foto de abertura deste ensaio.






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    Estudio Fotolabor
    Folheto publicitário. Anos 60.
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    Fotolabor manteve a partir dos anos 60 a ênfase no atendimento a clientes industriais e comerciais. Desde os anos 40, possuia outra unidade na Rua General Osório (2). As novas exigências para atender ao mercado levaram a investir em reforma das instalações com estúdio para produção de fotos de produtos como móveis e outros objetos de grande dimensões nos 300 metros quadrados disponíveis. Servia também como área de trabalho, no período noturno, para a elaboração de grandes painéis fotográficos para feiras comerciais e decoração.

    Ao longo desse longo período de atividade de Fotolabor, os clientes mais importantes foram empresas como a Trol, a indústria de brinquedos Estrela e o distribuidor de produtos para escritório Kartro. O conjunto incluiria também serviços especializados registrando obras do artista plástico e arquiteto Flávio de Carvalho ou as obras do Pavilhão de Exposições do Anhembi.

    Werner Haberkorn continuaria em atividade até os anos 80. Nos últimos anos, o fotógrafo afasta-se gradativamente, repassando as instalações da empresa para alguns de seus funcionários.




    Ricardo Mendes
    Com a colaboração de Fátima Pessoa

























































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    Banca de jornais
         
    Fila de onibus.
        
    Av. Vieira de Carvalho
    "Banca de jornaes - S.Paulo - 7"
    postal da Av. S.João - Final dos anos 40. Volta!
        
    "Vale do Anhangabahú - S.Paulo - 11"
    postal - Final dos anos 40. Volta!
         
    "Apartamentos - S.Paulo - 9"
    postal da Av. Vieira de Carvalho - Final dos anos 40. Volta!



















    Vale do Anhangabau - vista aerea
         
    Parque do Ibirapuera - vista aerea
    Vista aérea do Vale do Anhangabaú
    em direção ao norte, tendo em primeiro plano a praça das Bandeiras. Meados dos anos 50. Volta!
         
    Vista aérea do Parque do Ibirapuera. Meados dos anos 50.
    Volta!



















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      Fontes



      Coleção Família Haberkorn






      FotoPlus agradece à família pela cessão das imagens para esta edição do boletim Páginas Negras.

























































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      Notas:


      1. As denominações irão variar ao longo dos anos entre Fotolabor, Foto Labor e Foto Labor Werner.
        Volta!
      2. Inicialmente na Rua General Osório n.282, depois no n.141.
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      Página criada por Ricardo Mendes
      23.08.1997 - criação
      23.08.1997 - atualização
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