Galeria: artigo “Décio Pignatari: um memorial da cultura”

KAWALL, Luiz Ernesto. Décio Pignatari: um memorial da cultura.
Folha de S. Paulo, 14.11.1976, Caderno de Domingo/Artes visuais, p.72.
editor Luiz Ernesto Machado Kawall
(texto integral)

Segundo de uma série de cinco artigos
com entrevistas e comentários.


” – ‘O Centro de Pesquisas de Arte Brasileira se insere no campo pioneiro da preservação e análise da memória cultural – diz-nos Décio Pignatari, poeta, escritor, professor de Literatura, diretor do Centro de Pesquisas do IDART, da Prefeitura da Capital – que atua, diz, embora em nível mais modesto, ao lado de organismos congêneres, tais como o Centro Georges Pompidou, de Paris, e o Centro Nacional de Referência Cultural, de Brasília. Contudo, enquanto entidade municipal voltado principalmente para a realidade cultural do Município de São Paulo e da Grande São Paulo, podemos dizer que não tem similar ou, pelo menos, que não se tem conhecimento de Centros de Pesquisas semelhantes em outros países.’

– ‘A pesquisa científica do objeto-artístico e cultural ainda não possui parâmetros estratificados. Aqui, impõe-se a experimentação de métodos, o que confere ao Centro também características de núcleo modelar de formação e aperfeiçoamento de pesquisadores do objeto e do fato culturais. É, por esta razão, antes de mais nada, que, embora, em fase de implantação, optou-se pela deflagração do processo de pesquisa, juntamente com a realização das tarefas de planejamento, seja das operações de pesquisa, seja do preparo do material resultante destinado à catalogação e à consulta pública, um módulo em fase de elaboração e que nas condições presentes, deve ser estruturado de forma a permitir a ulterior implantação de um Banco de Dados Culturais, ou seja, um processo computerizado de recuperação da informação.’

– ‘As pesquisas dirigidas e a cobertura de eventos culturais são processadas segundo dois cortes: um sincrônico e outro diacrônico. Em corte sincrônico, pesquisam-se e registram-se dados atuais, de forma a facilitar o exame futuro das camadas cronológicas da cultura da cidade de São Paulo. Em corte diacrônico, pesquisam-se e registram-se manifestações e documentos das camadas culturais do passado’.

– ‘A Pesquisa Zero, ou Pesquisa Piloto, estendeu-se por cerca de sete meses, de janeiro a julho de 1976, e se configurou, para todas as áreas, no âmbito de uma temática geral, que foi a de ‘São Paulo Dentro e, Fora do Sistema’ ou ‘São Paulo Direito e Avesso’ – ou seja, as pesquisas foram endereçadas no sentido de registro e análise não só de manifestações culturais institucionalizadas, oficialmente aceitas, como também das manifestações culturais marginalizadas, ou por serem nascentes ou por estarem afetadas por algum processo de extinção. As áreas não são estanques: buscam-se nelas aquelas interfaces que propiciam trabalhos de natureza interdisciplinar.’

– ‘A massa de material coletado – chamado – ‘pacote bruto’ – passa por um processo de triagem e beneficiamento, do qual resulta o ‘pacote líquido’, um output final, que constitui a pesquisa propriamente dita’.

– ‘No momento atual, outubro de 1976, procede-se à apresentação da pesquisa de cada área para todas as demais áreas e setores, num trabalho de avaliação propriamente dita, e de classificação e ordenação do material no Arquivo Documental. Ao mesmo tempo, novas pesquisas estão sendo realizadas em todas as áreas, segundo critérios de importância, originalidade, tempo e custo’.

– ‘Em todas as áreas de pesquisas foram realizadas entrevistas gravadas, slides, fotos, filmes super 8, compra de cópias de filmes 16 e 36mm (sic) e coleta de documentos inéditos. Recolheu-se, também documentação relativa a atividades diversas de outros eventos artísticos. Editaremos vários tipos de publicações: ‘multi-mídias’, livros, boletins, audio-visuais’.

– ‘Nesses primeiros sete meses de funcionamento, em caráter ainda experimental, sem laboratórios próprios e em instalações precárias, os trabalhos de áudio recolhidos foram de 241 peças: visual, 12.865 peças; em objetos – matrizes e modelos – 54 peças; em pesquisas e reproduções – xerox, ampliação, cópias heliográficas, etc – 6.863 peças; papéis datilografados – memórias, correspondências e relatórios – [670] conjuntos; em papéis-desenho – plantas, mapas ‘croquis’ etc. – 155 unidades; e em papéis impressos – livros, programas, catálogos, cartazes – 340 peças’. (Luiz Ernesto Kawall).

N. da R. esta é a segunda reportagem sobre o trabalho do IDART, da Prefeitura de São Paulo; a primeira sob o título ‘A preservação documentada da memória cultural’, foi publicada dia 1./11.1976.”



Fonte:
KAWALL, Luiz Ernesto. Décio Pignatari: um memorial da cultura.
Folha de S. Paulo, 14.11.1976, Caderno de Domingo/Artes visuais, p.72.
https://acervo.folha.com.br/digital/leitor.do?numero=6034&anchor=4268554  (acesso para assinantes)