perfil: Maria Eugênia Franco


Maria Eugênia Franco (n.1915-1999), bibliotecária, crítica de arte e idealizadora do IDART, é uma entre tantas figuras de ação no campo cultural das décadas de 1950 e 1960, cujo percurso é hoje completamente ignorado. Apenas na última década, ensaios acadêmicos deram início a um revisão crítica de seu papel e desdobramentos.

Maria Eugênia Franco e o físico e crítico Mário Schenberg (n.1914-1990), década de 1940, provavelmente descendo a Av. São João, São Paulo, em direção à Praça do Correio. Fonte: Wikipedia


Maria Eugênia Franco e o físico e crítico Mário Schenberg (n.1914-1990), década de 1940, provavelmente descendo a Av. São João, São Paulo, em direção à Praça do Correio. Fonte: Wikipedia



Artigos


LEITE, Andrea Andira. Revisando a trajetória da curadora e crítica de arte Maria Eugênia Franco: estudos iniciais. Encontro de História da Arte, Campinas, SP, n. 13, p. 167–175, 2018. http://doi.org/10.20396/eha.13.2018.4336.

TRIZOLI, Talita. A I Bienal de São e a crítica de Maria Eugênia Franco. Anais do 42º Colóquio do Comitê Brasileiro de História da Arte – CBHA – Futuros da história da arte: 50 anos do CBHA (Rio de Janeiro, 7-12 nov.2022). Porto Alegre: CBHA, 2023.
http://dx.doi.org/10.54575/cbha.42.034 (ensaio)
https://doi.org/10.54575/cbha.42 (anais, completo)


.criado em: 2025.04.19
.atualizado em: 2025.04.19

perfil: Radha Abramo

Radha Abramo (n.1928-2013)
Radha Antonia Pinto Abramo

IDART
.1978-1979 – coordenadora do Centro de Pesquisas de Arte Contemporânea Brasileira (1978-1979)

.1985 – convidada para ser a primeira gestora do Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo

“Nascida em São Paulo, em 04 de dezembro de 1928, Radha Abramo teve contato com o jornalismo desde cedo, através da figura de seu pai, o jornalista Décio Abramo. Cursou História da Arte na École du Louvre (Sorbonne) em 1951 sob orientação de Jean Cassou e estagiou no museu até 1952, sob orientação de Bernard Dorival. Entre 1970 e 1971, formou-se em Artes Plásticas e cursou aulas de pós-graduação na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, estudando Estética e História da Arte.”
(site INSTAGRAM, perfil acervosdospalacios, 04.12.2024, acesso: 28.03.2025)

Acervo pessoal:
CEDAE – Centro de Documentação Cultural / Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp -IEL (https://www.iel.unicamp.br/cedae/)
24 metros lineares

.download: Fundo Radha Abramo – CEDAE-IEL-UNICAMP, 2021, 225p.

FundoRADHA ABRAMO
Área de identificação
Código de ReferênciaBR UNICAMP IEL/CEDAE RA
TítuloRadha Abramo
Data1906 – 2011 (Predominantemente 1977 – 2005)
Nível de DescriçãoFundo
Dimensão e Suporte24 metros lineares
Área de contextualização
Nome do ProdutorABRAMO, Radha Antonia Pinto
História Administrativa/BiografiaRadha Antonia Pinto Abramo nasceu em São Paulo no dia 4 de dezembro de 1928. Filha de Maria de Lourdes de Almeida Pinto e do jornalista e poeta paulista Decio Abramo. Foi casada com o jornalista Cláudio Abramo (1923-1987), com quem teve duas filhas: Barbara e Berenice. Cursou o Colegial (Clássico) no Colégio São Paulo, formando-se em 1948. Em 1951, com bolsa de estudos, cursa História da Arte na École du Louvre, Departamento da Sorbonne, sob orientação de Jean Cassou. Período em que se torna estagiária no Museu do Louvre, sob orientação de Bernard Dorival, cargo que ocupa até 1952. De volta ao Brasil, trabalha na produção, direção e apresentação do programa da TV Record “Por um mundo melhor”, entre 1954 e 1955. Ainda nesse meio de comunicação, produz e apresenta, entre 1957 e 1964, o programa da TV Tupi “Arte e Forma”, destinado à divulgação das artes plásticas. Nessa mesma época, entre 1958 e 1964, foi Diretora Artística da Galeria Ambiente em São Paulo e, entre 1965 e 1967, Diretora artística do Centro de Artes Visuais da Folha de São Paulo. Paralelamente, em 1967, foi Diretora Artística da 9ª Bienal Internacional de São Paulo. Ainda nos anos 1960, enquanto historiadora e crítica de arte, colaborou com os jornais “Diário de São Paulo”, “O Estado de São Paulo”, “O Tempo” e “Tribuna da Imprensa” (RJ). Em 1970, formou-se em Artes Plásticas e, logo em seguida, tirou a Licenciatura em Desenho e Plástica pela FAAP – Fundação Armando Álvares Penteado. Entre 1970 e 1971, cursou aulas de Pós-graduação na Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Em 1971, viaja para Paris e, sob orientação de Lucien Goldman, estuda estética e história da arte na École de Hautes Études en Sciences Sociales. Entre 1973 e 1974, faz todas as aulas exigidas pelo programa de Pós-graduação da Escola de Comunicações e Arte da Universidade de São Paulo. Em 1974, foi Diretora artística da 2ª (e última) Bienal Nacional de São Paulo. No ano seguinte, é presa, junto com o marido, pelo DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna), acusados de subversão. Ainda nos anos 1970, foi Diretora do Centro de Pesquisas/IDART – Prefeitura de São Paulo, escreveu críticas de arte na “Folha de São Paulo” e, com a psicóloga Maria Margarida de Carvalho, desenvolveu estudos de arterapia no Hospital das Clínicas de São Paulo e no Centro de Psicologia de São Paulo e fez ensaios de psicologia e da aplicação de métodos de “Terapias Expressivas” em institutos terapêuticos, universidades e, em especial, nos presídios do estado de São Paulo. Na primeira metade dos anos de 1980 volta a residir na Europa, ficando entre Paris e Londres. Nesse período, participa de pesquisas no norte da África, na França e na Itália. Em 1985, retorna ao Brasil e, convidada pelo governador Franco Montoro, monta, instala e é nomeada Curadora do Acervo Artístico Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo, cargo que ocuparia até aposentar-se em 1998; torna-se, assim, responsável pelo acervo do Palácio dos Bandeirantes, pelo acervo do Palácio do Horto Florestal, ambos em São Paulo, assim como pelo acervo do Palácio Boa Vista, em Campos do Jordão. Entre 1984 e 1987, é responsável pela mostra internacional “Da Cor e do desenho do Brasil”, projeto que percorreu inúmeros países europeus mostrando a qualidade das obras dos brasileiros. Em 1986, é curadora da Bienal de Veneza/Brasil. Radha Abramo participou da elaboração e construção de vários projetos de Arte Pública: “Museu da Praça da Sé”, “Arte no Metrô de São Paulo”, “Praça da memória” – Arquivo do Estado, Campus da Cidade Universitária” e Projeto “Eu Vi o Mundo… Ele Começava no Recife”, com Cícero Dias e Francisco Brennand, e, em Lisboa, com um grande mural de Luiz Ventura, na Estação Restauradores, quando da “Comemoração dos 500 Anos do Brasil”. Professora, museóloga, historiadora e crítica de arte, publicou estudos e comentários históricos/críticos de artes plásticas da Europa e da América Latina em diversos jornais, revistas e como capítulos de livros. Como crítica de arte, realizou diversas apresentações de artistas plásticos brasileiros, em catálogos para mostras nacionais e estrangeiras em galerias de arte. Fez parte de comissões culturais e executou diversos projetos de pesquisa na área da cultura e da educação e fez inúmeras mostras e participou de salões de arte no Brasil e no exterior. Foi membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte – ABCA, da Associação Internacional de Críticos de Arte – AICA, da Internacional Council of Monuments and Sites – ICOMOS/Brasil, do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, e, em 1983, participou da fundação da ONG Comissão Teotônio Vilela de Defesa da Pessoa Humana. Dentre os muitos prêmios recebidos, ganha em 2003 o prêmio Mario de Andrade da ABCA. Em 2004, é curadora da exposição “Uma Viagem de 450 anos” no SESC Pompéia, São Paulo, em comemoração do aniversário da cidade de São Paulo. Em 2005, é curadora da “Exposição Caderno de Notas – Vlado, 30 anos”, exposição que acontece nas antigas celas do DEOPS (Departamento Estadual da Ordem Política e Social), atualmente integradas à Estação Pinacoteca, organizada pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo em memória do jornalista Vladimir Herzog, no 30º aniversário de seu assassinato. Radha falece em São Paulo no dia 24 de julho de 2013.Fontes: Conjunto de currículos de Radha Abramo disponíveis no acervo e material disponível em: (i) http://www.usp.br/espacoaberto/arquivo/2004/espaco40fev/0cultura.htm;(ii) http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaImprimir.cfm?materia_id=8279; (iii) http://www.museus.gov.br/noticias/ibram-presta-homenagem-a-museolga-radha-abramo-e-ao-artista-leon-ferrari/. Acessos em: 10.09.2013.
História ArquivísticaAtravés do Prof. Dr. Paulo Franchetti (DTL/IEL) o CEDAE foi informado da intenção das filhas da titular, Bárbara e Berenice Abramo Abramo, de doarem documentos para a universidade. Foi formada uma comissão de avaliação, composta pelo professor citado e mais dois membros, Prof. Dr. Jefferson Cano (DTL/IEL) e pela Profa. Dra. Sonia Cyrino (DL/IEL), que concluiu pelo aceite do conjunto de documentos.
ProcedênciaDoação de Bárbara Abramo Abramo e Berenice Abramo Abramo em junho de 2011.
Área de conteúdo e estrutura
Âmbito e ConteúdoComposto por um conjunto de livros, revistas, catálogos, folders e recortes de jornais com artigos de autoria da titular e de terceiros; constam também versões manuscritas destes artigos, correspondências enviadas e recebidas pela titular, relatórios, atas, estatutos, projetos, convites, currículos da titular e de terceiros, fotografias, fitas de vídeo e cassete, slides e trabalhos artísticos de terceiros.
Sistema de ArranjoNão organizado.
Área de condições de acesso e uso
Condições de AcessoConsulta livre.
Condições ReproduçãoConsultar as normas gerais de reprodução de documentos do CEDAE.
Idioma do MaterialPredominantemente português, constam documentos em alemão, espanhol, francês, inglês e italiano.
Instrumento de PesquisaListagem do fundo.

Fonte: https://www.iel.unicamp.br/cedae/acervo/guia-do-acervo-cedae/informacoes/?id=d9d4f495e875a2e075a1a4a6e1b9770f (acesso: 28.03.2025)

.criado em: 2025.03.28
.atualizado em: 2025.03.28

Galeria: artigo “A preservação documentada da memória cultural”

A preservação documentada da memória cultural.
Folha de S. Paulo, 31.10.1976, Ilustrada, Artes Visuais, p.56.
editor Luiz Ernesto Machado Kawall
(texto integral)

Primeiro de uma série de cinco artigos
com entrevistas e comentários.



Pioneiro no Brasil, pluridisciplinar e interdisciplinar, o IDART, banco-de-dados culturais da Prefeitura, dá seguimento às pesquisas iniciadas por Mário de Andrade, Paulo Duarte e Sergio Milliet há 40 anos em S. Paulo.

O prefeito Olavo Setúbal foi conhecer o IDART, que funciona (mal instalado e pouco equipado) no andar térreo da Secretaria da Cultura, na rua do Carmo, antiga casa da marquesa de Santos. O secretário Max Feffer (nota: Secretário de Estado da Cultura) já propôs um convênio com o IDART em âmbito estadual. O governador Paulo Egidio, recentemente, encontrou-se com a diretora Maria Eugênia Franco e colaboradores, em casa de um artista, a fim de conhecer os trabalhos e a equipe do IDART.

Afinal, o que é o IDART? Sábato Magaldi, secretário da Cultura, responde a Artes Visuais:
– ‘O Departamento de Informação e Documentação Artísticas, IDART, da Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo foi projetado para constituir-se num Instituto de Documentação Artística, pluridisciplinar e interdisciplinar.’

– ‘Experiência pioneira no Brasil, sua função básica, de acordo com a lei que o criou, [é] documentar a criatividade internacional e nacional, do passado e do presente, em dez campos de atividades artísticas e nas que se encontram com estas relacionadas, canalizando a recuperação de informação, por via biblioteconômica, inicialmente, e, mais tarde, computerizada, pela formação de um ‘banco de dados’ ‘.

– ‘Abrange as seguintes disciplinas artísticas: Arquitetura, urbanismo, paisagismo; Artes Cênicas: teatro, dança, circo, espetáculo em geral; Artes Gráficas: comunicação visual, comunicação urbana, tipografia, fotografia; Artes Plásticas: pintura, desenho, gravura, escultura, objeto, manifestações plásticas diversas; Cinema, em suas realizações várias; Comunicação de Massa: imprensa, rádio, TV, publicidade e outros ‘mídias’; Desenho Industrial, em suas diversas áreas. Folclore, urbano e rural, e as várias manifestações de arte espontânea; Literatura, quando em relação com a Semiótica, nesses vários campos artísticos; Música e Som, em realizações e/ou manifestações específicas.’

– ‘Na área internacional, seu programa prevê o desenvolvimento da DISCOTECA E BIBLIOTECA DE MÚSICA (criada por Mário de Andrade em 1935) e a BIBLIOTECA DE ARTES (que Sergio Milliet idealizou, em 1945). Propõe a atualização e ampliação de seus acervos, métodos de arquivamento, registro biblioteconômico e documental, a fim de ampliar, paralelamente, vários tipos de informação, nas dez áreas artísticas de que se ocupa’.

– ‘Para cobrir as carências de informação e documentação, na área nacional o projeto criou o CENTRO DE PESQUISAS DE ARTE BRASILEIRA, que: nos dez citados campos de criatividade, fará o levantamento de nossas realizações artísticas com o objetivo básico de ‘preservação da memória nacional’. (N. da R.: o Centro é dirigido pelo poeta, escritor, Professor de Literatura e teoria de comunicação Décio Pignatari, do qual, oportunamente, publicaremos entrevista [sobre] objetivos setoriais do Centro.) (sic)

– ‘O campo de pesquisas do Centro é, especificamente, a cultura da Grande São Paulo. A documentação recolhida é toda ela reunida no Arquivo Documental de Arte Brasileira, que deverá armazenar e preparar, para uso, não apenas a documentação levantada pelas pesquisas, como toda informação sobre arte brasileira recebida de outras fontes.’

– ‘Encontra-se o Centro de Pesquisas em fase de implantação, tendo já realizado o programa correspondente à cobertura documental de alguns dos principais eventos artísticos ocorridos no 1º semestre de 1976, em São Paulo.’

– ‘Baseados nessa experiência, o projeto sugere aos Estados a criação de órgãos semelhantes, Centros de Pesquisas de Arte Brasileira, de natureza regional, que estabeleceriam um sistema de permuta de informações, por convênio e, ao mesmo tempo, canalizariam os dados recolhidos para uma Central de Informações sobre Arte Brasileira, a ser instalada em Brasília, junto ao Centro Nacional de Referência Cultural da Fundação Cultural da Cidade.

‘Paralelamente às atividades de documentação internacional e nacional, o IDART desenvolverá um ‘Programa de Divulgação das Atividades Artísticas de São Paulo’ já em fase prioritária. Encontra-se, em estudos, pela Assistência Técnica da Diretoria do Departamento, um tipo novo de ‘publicidade cultural’, que obedece a um critério didático informativo.’

Esse programa prevê a divulgação de informações sobre os eventos artísticos da cidade de São Paulo, pela imprensa, rádio, TV, cinema, ruas, estações, metrôs, etc. Terá, também, difusão estadual, nacional e latino americana.

‘Cuidará, ainda, o IDART de intercâmbio intensivo com instituições congêneres, nacionais e internacionais.’

‘O IDART pretende editar publicações de vários gêneros e instalar diversos laboratórios, para venda a preço de custo, de cópias de documentos recolhidos, como filmes, vídeo-tapes, fitas magnéticas gravadas, fotos, micro-filmes, xerocópias, qualquer outro tipo de reprografia documental.’

‘O ante-projeto de criação do Departamento de Informação Artísticas e de autoria da crítica de arte Maria Eugenia Franco, como diretora do extinto Departamento do Patrimônio Artístico-Cultural, da Secretaria Municipal de Cultura. Para sua elaboração, consultou vários especialistas. E sua Diretora, a convite da atual administração. (sic) Seu ante-projeto, criou, também, o Departamento do Patrimônio Histórico, para preservação e documentação específicas da cidade de São Paulo, proteção a monumentos e obras de valor artístico histórico a semelhança do que realiza o IPHAN, do MEC, em nível nacional.’

A esperança da diretora M. E. Franco

Maria Eugenia Franco, crítica de arte (‘Folha da Manhã’, ‘O Estado de S. Paulo’, nos anos 40/50), prêmio para o Melhor Trabalho Crítico sobre a II Bienal de São Paulo, organizadora e diretora da Seção de Arte da Biblioteca Municipal, onde manteve, durante 30 anos, uma atividade cultural de reconhecida importância para o nosso meio, é a diretora do IDART. Ela diz a Artes Visuais que o IDART, sigla adotada para o Departamento de Informação e Documentação Artística da Secretaria da Cultura, nasceu na administração do prefeito Colasuonno, sendo Secretário Municipal da Cultura, interino, Luiz Mendonça de Freitas, que como Secretário dos Negócios Extraordinários, havia transformado o antigo Departamento Municipal de Cultura em Secretaria Municipal de Cultura.

– ‘Há 40 anos quando Paulo Duarte, Mário de Andrade e outros, com apoio do Prefeito Fabio Prado, criaram o Departamento Municipal de Cultura, nada existia, no campo cultural das instituições de São Paulo. Agora, o Departamento estava atrofiado. A criação da Secretaria Municipal de Cultura foi importantíssima: concretizou uma possibilidade de desenvolvimento das atividades culturais da Prefeitura de São Paulo. Garantiu-lhes maiores verbas e uma ampliação das estruturas técnicas e administrativas. Forçou a descentralização para favorecer a expansão das várias áreas.

– ‘Quando estudei [a] lei da nova Secretaria, verifiquei que a Discoteca Municipal e a Biblioteca de Arte, criadas, respectivamente, por Mário de Andrade e Sergio Milliet: uma, há 40 anos, outra, há 30 anos, continuavam exatamente com a mesma estrutura, ou seja, tão atrofiadas quanto antes.

P – Qual foi sua atuação, diante desse fato:
R – Imediatamente, a do apelo, a do respeito de auxílio, a do protesto. Creio que tenho feito isto minha vida toda, pelas instituições da Prefeitura. Com a colaboração, esclarecida de Lenira Fracarolli, criadora e organizadora e ex-diretora da Biblioteca Infantil de São Paulo, falei com Dulce Sales Cunha Braga que, com sua argúcia de sempre, percebeu a importância do problema, levando-o a Dr. Luiz Mendonça de Freitas e ao Prefeito Miguel Colasuonno. Fui ouvida por Dr. Freitas com excepcional atenção a uma aguda compreensão de tudo que lhe expus. Dias depois, o Prefeito me convidou para dirigir o Departamento do Patrimônio artístico-Cultural, aonde se encontravam as instituições cuja defesa havia assumido. Inicialmente, recusei a honra do convite. Queria me dedicar a pesquisas, a trabalhos pessoais. Mas senti que não tinha o direto moral e cultural de negar minha colaboração. Conhecia o ‘interior’ dos problemas, e o convite me garantia plena liberdade para reformular o Departamento. Era uma oportunidade rara, que me permitiria, talvez, conseguir coisas de interesse público, pelas quais sempre lutei, algumas vezes sem resultados.’

– ‘Felizmente, deu certo: a ‘visão aberta’ encontrada na administração do prefeito Miguel Colasuonno e a lucidíssima colaboração de Dr. Luiz Mendonça de Freitas transformaram meu anteprojeto em lei. Graças, também, ao apoio total de Sábato Magaldi, ao auxílio tão firme da APCA, à atenção dos vários especialistas que consultei e à compreensão da Câmara Municipal. Mas, é justo lembrar-se: a lei foi sancionada pelo Prefeito Olavo Setubal, um homem que teve a superioridade de aprovar o projeto de seu antecessor, colocando os interesses culturais acima da competição política, num gesto rato e nobre.’

P – De onde nasceu seu projeto do IDART?
R – ‘Talvez tenha sido o resultado do ‘amadurecimento’ de experiências e vivências pessoais. Dirigi, durante trinta anos, uma Biblioteca Pluridisciplinar de Arte, e o ‘início’ de um Arquivo Documental de Arte Brasileira, onde comecei o registro dos eventos artísticos de São Paulo e da obra dos nossos artistas. Foi tudo logo paralisado, por falta de verba e de funcionários. Fiz também um estágio de seis meses, em 1948, no Setor de Documentação da UNESCO, ainda muito em começo, naquele após guerra. Nessas duas atualizações, vi e vivi sempre, ‘dificuldades’ funcionais, operacionais e materiais, para as tarefas do pesquisador, em instituições de natureza ‘para-universitária’.’

‘Por isso, no anteprojeto que elaborei, procurei definir uma estrutura orgânica, juridicamente protegida, de forma a dar aos programas culturais de trabalho, às pesquisas, sobretudo, condições necessárias à sua aplicação e ampliação progressivas. Continuava a tradição do ‘espírito de pesquisa’ iniciado, no Departamento de Cultura, por Mário de Andrade, com a colaboração de Oneyda Alvarenga e Luiz Sala.

Mas programei um organismo pluridisciplinar, justamente para impedir a tendência que têm os especialistas de se fecharem em seu campo de atividades, como se fosse um mundo único. A cultura, até mesmo em áreas específicas, como as disciplinas artísticas, é pluridisciplinar e, muitas vezes, interdisciplinar. É uma estrutura global, formada por vasos intercomunicantes. Deste conceito partiu meu projeto do Centro de Pesquisas de Arte Brasileira e do IDART, concebido também em função da arte internacional.

É curioso que, ignorando o projeto de Aloisio Magalhães, para a Fundação Cultural de Brasília, e ele, meu projeto, imaginamos organismos semelhantes, em sua preocupação básica: a de preservação da ‘memória’ nacional. Mas os projetos regionais poderão ‘alimentar’ no futuro, o Centro Nacional de Referência Cultural.’

P – Como se desenvolvem as pesquisas e a escolha dos pesquisadores?
R – ‘Os pesquisadores são escolhidos por currículo, exigindo-se formação universitária, especializada na área em que deverão trabalhar. Meu projeto inicial tinha dez áreas (estamos trabalhando com oito) e seis pesquisadores em cada área, para recolherem dados sobre o presente e o passado da vida artística paulista. Temos apenas a metade. Havia proposto, também, a contratação de estudantes, como ‘auxiliares de pesquisa’. Eles nos fazem muita falta para tarefas mais simples. Os pesquisadores mais experientes deveriam ser aproveitados para a análise da documentação recolhida, preparando publicações e outros ‘mídia’ de divulgação, para aproveitamento integral do material coletado. Há vários ‘níveis’, num trabalho concebido em grande escala.’

– ‘No IDART, a programação é decidida por um colegiado de especialistas, que constituem um ‘Conselho de Pesquisas’. Este Conselho é formado por mim, como Diretora do Departamento, os Assistentes Técnicos, Lais Moura, e Jurídico da Diretoria, procuradora Maria de Lourdes Ferreira, pelo diretor do Centro de Pesquisas, Décio Pignatari, e os supervisores de cada área especializada, cujos nomes são citados adiante. Nossas reuniões foram essenciais, sobretudo nos primeiros meses, para definirmos, num trabalho de equipe as diretrizes gerais e particulares da escolha dos temas a serem pesquisados e o desenvolvimento das várias tarefas.’

– ‘Estamos realizando, talvez, um programa inédito, no Brasil, ao nos propormos estudar e documentar os vários campos de cultura artística de São Paulo, tomada como laboratório de uma experiência de estética sociológica: levantamento e análise pluridisciplinar e interdisciplinar de uma cultura artística urbana, surgida numa cidade industrial brasileira.

– ‘Tive uma formação sociológica (Escola de Sociologia e Política e uma experiência marcante: assisti a aulas de Claude Lévi-Strauss). Talvez, por isso, penso muito em ter, em nossa equipe, especialistas em estética sociológica, para um enfoque científico, sob o ângulo sociológico, do material que está sendo levantado por nós.’

– ‘Quanto aos pesquisadores, serão garantidos seus ‘direitos autorais” e a ‘prioridade’ ao uso de elementos recolhidos, quando iniciadores de um trabalho, individualmente ou em equipe.’

– ‘Ainda não temos as condições ideais de trabalho. Não se monta um Centro de Pesquisas tão complexo, num ano apenas. Nos faltam ainda um local adequado, salas climatizadas para Arquivos, Oficinas gráficas, Laboratórios de som, fotografia e microfilmagem. Toda a estrutura operacional e técnica, enfim. Também os equipamentos para o Arquivo Documental e os métodos de armazenagem de documentos precisam ser rigorosamente estudados. Não temos a infra-estrutura indispensável.’

– ‘Mas, depois da visita do Prefeito Olavo Setubal e de um importante encontro do IDART com o governador Paulo Egidio Martins, passei a acreditar um pouco mais no futuro do nosso Departamento.’

Áreas e supervisores do Centro de Pesquisas

As áreas do Centro de Pesquisas de Arte Brasileira do IDART, e respectivos supervisores e equipes, são estas:

Arquitetura e Desenho Industrial – Supervisor, arquiteto Claudio da Rosa Ferlauto; pesquisadores: arquitetos Bluette Fortes Santa Clara, João Batista Novelli Junior, Luiz Otavio Zamarioli e Otavio Saito.

Artes Cênicas – Supervisora: Maria Thereza Vargas; pesquisadores: Carlos Eugenio Marcondes de Moura, Claudia de Alencar Bittencourt, Linneu Moreira Dias e Angela Muraro Alves de Lima (sic).

Artes Gráficas – Supervisor: Fernando Lemos; pesquisadores: Eduardo de Jesus Rodrigues e Hermelindo Fiaminghi, e Julio Plaza.

Artes Plásticas – Supervisor: Raphael Buongermino Netto; pesquisadores: Daisy Valle Machado Peccinini, Maria Vanessa Rego de Barros Cavalcanti, Radha Abramo, Regina Helena Dutra Rodrigues Ferreira da Silva e Sonia Pietro.

Arte Popular – Leila Coelho Frota.

Cinema – Supervisor: Carlos Roberto Rodrigues de Souza; pesquisadores: Eliana de Oliveira Queiroz, José Carvalho Motta e Zulmira Ribeiro Tavares.

Comunicação de massa – Supervisor: Decio Pignatari; pesquisadores: Carlos Alberto Valero de Figueiredo, Eliana Lobo de Andrade Jorge, Flávio Luiz Porto da Silva, Maria Luisa Biandy Vercesi (sic) e Rita Okamura.

Literatura e Semiótica – Supervisora: Lucrécia D’Alessio Ferrara; pesquisadores: Cristine Marie Tedeschi Conforti Serroni, Diná Yoshizak, Erson de Martins de Oliveira, Norval Baitello Junior.

Música e Som – Supervisor: Mastro Damiano Cozzella; pesquisadores: Dorotéa Machado Kerr, Fernando C. Duarte e Ricardo Lobo de Andrade.

Arquivo documental – Supervisora: Maria José Camargo de Carvalho


Fonte:
A preservação documentada da memória cultural.
Folha de S. Paulo, 31.10.1976, Ilustrada, Artes Visuais, p.56.
https://acervo.folha.com.br/digital/leitor.do?numero=6020&anchor=5868860  (acesso para assinantes)

Fotógrafos “do Idart”

Um grande número de fotógrafos, especialmente jovens profissionais, atuantes ao final da década de 1970 até a década de 1990, teve seus nomes associados ao Idart e à Divisão de Pesquisas. Em sua quase totalidade, não tinham vínculos empregatícios diretos com o Idart ou a Divisão de Pesquisas. Um parcela pequena ao final dos anos 1980 e 1990 integrava a equipe de fotógrafos do CCSP.

Essa marca – “fotógrafos do Idart” – esteve assim associada a um conjunto de profissionais voltados para a documentação artística, como também em campos complementares como arquitetura, o que justifica que seja feito aqui uma primeira relação de colaboradores.

Ary Brandi
Djalma Limongi Batista (n.1947-2023)
Emidio Luisi
Francisco Magaldi
Gal Oppido – Marco Aurélio Oppido (n.1952)
Gualter Batista
Heloisa Greco Bortz (n.1968)
João Caldas – João Gomes Caldas Filho (n.1957)
João Mussolin Neto (n.1955) (CCSP)
Joel La Laina Sene (n.1951)
Kaka Alcover – Claudia Maria Riccio Alcover (CCSP)
Lenise Pinheiro (n.1960)
Leonardo Crescenti Netto (n.1954-2018)
Maria Luiza Garavelli
Mario Castello – Mario V. Castello Silva
Ruth Amorim Toledo
Sosô Parma – Sonia Regina Parma (n.1956) (CCSP)
Sylvia Masini (SMC)
Yuji Kusuno (IDART, 1976)

Galeria: anos 1990

CCSP, anos 1990, Natal. Da direita para esquerda, sentados: Ana Maria Rebouças (Artes cênicas) e Ricardo Mendes (Fotografia); atrás, em pé: Márcia Denser (Literatura), Maria Thereza Vargas (Artes cênicas), Maria Olimpia Vassão (Artes plásticas), Ana Maria Campanhã (Educativo), Sonia Fontanezi (Artes gráficas) e Fátima Arcoverde (Literatura).

Enviado por Fátima Arcoverde (2024.12.20). Autoria desconhecida.