Galeria: artigo “Idart chama as empresas”

Idart chama as empresas.
Folha de S Paulo, 09.01.1977, Artes visuais, p.62.
editor Luiz Ernesto Machado Kawall
(texto integral)

Quinto de uma série de cinco artigos
com entrevistas e comentários.


O Departamento de Informação e Documentação Artísticas da Secretaria Municipal de Cultura – IDART – solicita, às empresas particulares do Brasil, tais como firmas, bancos, e outras, que editaram brindes de fim de ano, ilustrados com reproduções de qualquer aspecto das artes do Brasil, como artes plásticas (contemporâneas ou do passado), monumentos históricos, arte indígena, arte popular, teatro, música e outras artes, o obséquio de enviarem o número mínimo de três exemplares de suas edições ao Centro de Pesquisas de Arte Brasileira do Departamento à rua Roberto Simonsen, 136 – térreo.

Os exemplares coletados, este ano, integrarão o Arquivo Documental do Centro, sendo por este conservados e utilizados, para exposições e outras atividades.

As edições podem ser de calendários, agendas, álbuns de arte, reproduções avulsas, cartazes, outdoors, textos de revistas, ilustrados ou não, e qualquer outro tipo de documentação sobre as artes em geral, no Brasil, publicada por empresas particulares, sendo consideradas, pelo IDART, de grande importância, como registro documental de Arte Brasileira. O núcleo inicial do IDART, a Seção de Arte da Biblioteca Municipal de Mário de Andrade, criou o Prêmio Ampulheta, para calendários de arte editados no Brasil, mantendo, durante 11 anos, o concurso, com exposições dos premiados.


Resumo das pesquisas já realizadas

Nas últimas reportagens sobre o Centro de Pesquisas de Arte Brasileira do IDART – Departamento de Informações e Documentação Artísticas, da Secretaria Municipal de Cultura, publicamos informações sobre os trabalhos desenvolvidos, no primeiro semestre de 1976, por essa Entidade, nas áreas de Arquitetura e Desenho Industrial, Artes Gráficas, Artes Plásticas e Arte Popular.

Hoje divulgaremos, ainda em primeira mão, resumo das pesquisas realizadas pelas demais áreas do IDAR/CP:


ÁREA: ARTES CÊNICAS

A Área de Artes Cênicas orientou a pesquisa no sentido de documentar os espetáculos que atendem duas faixas da população: o circo e o teatro. A essas duas formas de teatro corresponde uma situação geográfica do espetáculo. O circo acontece na periferia, enquanto o teatro se localiza nos pontos mais centrais da cidade.

A coleta do material pesquisado resultou num acervo de depoimentos gravados (sessenta horas), mil fotografias, duzentos slides, cartazes, programas, críticas, listagem de pessoal, empresas e entidades referentes a essas duas manifestações. Há também um documentário em super-oito realizado pelo ator-circense Demetrius.

Supervisora: Maria Thereza Vargas; Pesquisadores: Carlos Eugênio Marcondes de Moura, Cláudia de Alencar Bittencourt, Linneu Moreira Dias e Mariangela Muraro Alves de Lima, com formação universitária da Escola de Arte Dramática da USP.

Paralelamente, num trabalho interdisciplinar a Área de Arquitetura estudou o circo, enquanto estrutura arquitetônica como informamos domingo passado.

ÁREA: COMUNICAÇÃO DE MASSA

A área de Comunicação de Massa foi subdividida em quatro sub-áreas: Jornalismo, Publicidade, Rádio e Televisão. Cada uma dessas sub-áreas desenvolveu uma pesquisa distinta, dentro do tema geral proposto – SÃO PAULO: DIREITO E AVESSO, ou SÃO PAULO, DENTRO E FORA DO SISTEMA. Estudaram-se, pois, manifestações institucionalizadas e manifestações paralelas e/ou marginalizadas, excetuando o caso de Jornalismo, que se dedicou à chamada imprensa independente ou ‘nanica’, para posterior cotejo com a imprensa institucionalizada. Coleta de peças e documentos, gravados de depoimentos (sic), fotos documentais e registro de processos operacionais foram, em seguida, classificados, analisados e interpretados.

Supervisor: Décio Pignatari; Pesquisadores: Carlos Alberto Valero de Figueiredo, Eliana Lobo de Andrade Jorge, Flávio Luiz Porto e Silva, Maria Elisa Blandy Vercesi e Rita Okamura, com estudos específicos, nas áreas de que se ocuparam, licenciados pela Escola de Comunicação e Artes da USP.

ÁREA: CINEMA

A Área do Cinema estou curta-metragem de 70 a meados de 76. O estudo abrangeu legislação, produção, distribuição, exibição e as formas de difusão por meio de críticas ou festivais. O tema dentro/fora do sistema foi entendido da seguinte maneira: dentro do sistema estão os curtas que contam ou com um mercado compulsório (cinejornal) ou com o retorno certo de capital, como a cinepublicidade e os filmes de prestação de serviços; fora do sistema os filmes que veiculam os aspectos mais vivos da cultura nacional. Do conjunto de curtas independentes selecionou-se uma amostra que destaca três temas: a situação do curta no Brasil, a participação do imigrante no desenvolvimento da cidade e um histórico de São Paulo, da economia rural à industrialização.

Supervisor: Carlos Roberto Rodrigues de Souza; Pesquisadores: Eliana de Oliveira Queiroz, José Carvalho Motta e Zulmira Ribeiro Tavares, especialistas em cinema com formação na USP.

ÁREA: LITERATURA E SEMIÓTICA

O trabalho se direciona para dois pólos da produção literária: as realizações mantidas à margem do circuito comercial e a tradução de textos literários para a televisão. Na televisão privilegia-se o texto consagrado pela História Literária e mantém-se os padrões convencionados pelo Sistema: linearidade, verossimilhança e intriga. A antiliteratura é desvinculada da norma literária, por constituir informação que enfrenta o bloqueio editorial e a recepção impermeável ao novo. A passagem do texto verbal para o televisivo constitui um fato semiótico que poderá intervir na percepção do receptador, desenvolvendo sua capacidade de aprender a linguagem à procura da invenção.

Supervisora: Professora Lucrécia D’Aléssio Ferrara; Pesquisadores: Cristine Marie Tedeschi Conforti Serroni, Diná Yoshizaki, Erson Martins de Oliveira e Norval Baitello Júnior, licenciados em literatura pela PUC.

ÁREA: MÚSICA / SOM

O título dado à pesquisa foi O Disco em São Paulo. Tratou-se do disco comercial, produzido inteira ou parcialmente na cidade (aqui são produzidos acima de 50% dos discos do país). Colheu-se documentos, de janeiro a julho de 1976, junto a empresas bem pequenas (Clarim, Holiday), médias (Carmona, Japoti) e grandes (RCA, Continental), ilustrando as etapas do processo: empresariado, gravação, industrialização, consumo.

Gravamos e fotografamos depoimentos (empresários, artistas, técnicos de indústria). Colhemos literatura e amostras de discos, material gráfico, etc. A pesquisa se interessou pelo disco como processo que vai da produção ao consumo.

Supervisor: Maestro Damiano Cozzela; Pesquisadores: Dorotéa Machado Kerr, Fernando C. Duarte e Ricardo Lobo de Andrade, musicistas e musicólogos.

ÁREA: ARQUIVO DOCUMENTAL

Compete ao Arquivo Documental do Centro de Pesquisas do IDART, segundo normas internacionais e nacionais de documentação, recolher, processar tecnicamente e divulgar as informações oriundas dos documentos recolhidos pelas diversas áreas de pesquisa ou adquiridas por compra, permuta ou doação recebidas de outras fontes.

Trabalho já em desenvolvimento: Hemeroteca, abrangendo toda manifestação artística e cultural brasileira contemporânea, vem reunindo coleções especiais de jornais e revistas, no sentido de fazer o ‘Registro da Memória’ e de manter atualizadas as áreas de pesquisa e consulentes, arquivando no primeiro semestre de 1976: 8.550 artigos de periódicos e 150 artigos de revistas.

Supervisora: Bibliotecária Maria José Camargo de Carvalho.

O bibliotecário Márcio Airello Pires de Almeida já executou um projeto que visa à recuperação da informação, no Arquivo Documental.
(AV, 31.10, 14.11, 5.12 e 19.12)

Fonte:
Idart chama as empresas.
Folha de S Paulo, 09.01.1977, Artes visuais, p.62.
https://acervo.folha.com.br/digital/leitor.do?numero=6090&anchor=4222673 (acesso para assinantes)

Galeria: artigo “A preservação documentada da memória cultural”

A preservação documentada da memória cultural.
Folha de S. Paulo, 31.10.1976, Ilustrada, Artes Visuais, p.56.
editor Luiz Ernesto Machado Kawall
(texto integral)

Primeiro de uma série de cinco artigos
com entrevistas e comentários.



Pioneiro no Brasil, pluridisciplinar e interdisciplinar, o IDART, banco-de-dados culturais da Prefeitura, dá seguimento às pesquisas iniciadas por Mário de Andrade, Paulo Duarte e Sergio Milliet há 40 anos em S. Paulo.

O prefeito Olavo Setúbal foi conhecer o IDART, que funciona (mal instalado e pouco equipado) no andar térreo da Secretaria da Cultura, na rua do Carmo, antiga casa da marquesa de Santos. O secretário Max Feffer (nota: Secretário de Estado da Cultura) já propôs um convênio com o IDART em âmbito estadual. O governador Paulo Egidio, recentemente, encontrou-se com a diretora Maria Eugênia Franco e colaboradores, em casa de um artista, a fim de conhecer os trabalhos e a equipe do IDART.

Afinal, o que é o IDART? Sábato Magaldi, secretário da Cultura, responde a Artes Visuais:
– ‘O Departamento de Informação e Documentação Artísticas, IDART, da Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo foi projetado para constituir-se num Instituto de Documentação Artística, pluridisciplinar e interdisciplinar.’

– ‘Experiência pioneira no Brasil, sua função básica, de acordo com a lei que o criou, [é] documentar a criatividade internacional e nacional, do passado e do presente, em dez campos de atividades artísticas e nas que se encontram com estas relacionadas, canalizando a recuperação de informação, por via biblioteconômica, inicialmente, e, mais tarde, computerizada, pela formação de um ‘banco de dados’ ‘.

– ‘Abrange as seguintes disciplinas artísticas: Arquitetura, urbanismo, paisagismo; Artes Cênicas: teatro, dança, circo, espetáculo em geral; Artes Gráficas: comunicação visual, comunicação urbana, tipografia, fotografia; Artes Plásticas: pintura, desenho, gravura, escultura, objeto, manifestações plásticas diversas; Cinema, em suas realizações várias; Comunicação de Massa: imprensa, rádio, TV, publicidade e outros ‘mídias’; Desenho Industrial, em suas diversas áreas. Folclore, urbano e rural, e as várias manifestações de arte espontânea; Literatura, quando em relação com a Semiótica, nesses vários campos artísticos; Música e Som, em realizações e/ou manifestações específicas.’

– ‘Na área internacional, seu programa prevê o desenvolvimento da DISCOTECA E BIBLIOTECA DE MÚSICA (criada por Mário de Andrade em 1935) e a BIBLIOTECA DE ARTES (que Sergio Milliet idealizou, em 1945). Propõe a atualização e ampliação de seus acervos, métodos de arquivamento, registro biblioteconômico e documental, a fim de ampliar, paralelamente, vários tipos de informação, nas dez áreas artísticas de que se ocupa’.

– ‘Para cobrir as carências de informação e documentação, na área nacional o projeto criou o CENTRO DE PESQUISAS DE ARTE BRASILEIRA, que: nos dez citados campos de criatividade, fará o levantamento de nossas realizações artísticas com o objetivo básico de ‘preservação da memória nacional’. (N. da R.: o Centro é dirigido pelo poeta, escritor, Professor de Literatura e teoria de comunicação Décio Pignatari, do qual, oportunamente, publicaremos entrevista [sobre] objetivos setoriais do Centro.) (sic)

– ‘O campo de pesquisas do Centro é, especificamente, a cultura da Grande São Paulo. A documentação recolhida é toda ela reunida no Arquivo Documental de Arte Brasileira, que deverá armazenar e preparar, para uso, não apenas a documentação levantada pelas pesquisas, como toda informação sobre arte brasileira recebida de outras fontes.’

– ‘Encontra-se o Centro de Pesquisas em fase de implantação, tendo já realizado o programa correspondente à cobertura documental de alguns dos principais eventos artísticos ocorridos no 1º semestre de 1976, em São Paulo.’

– ‘Baseados nessa experiência, o projeto sugere aos Estados a criação de órgãos semelhantes, Centros de Pesquisas de Arte Brasileira, de natureza regional, que estabeleceriam um sistema de permuta de informações, por convênio e, ao mesmo tempo, canalizariam os dados recolhidos para uma Central de Informações sobre Arte Brasileira, a ser instalada em Brasília, junto ao Centro Nacional de Referência Cultural da Fundação Cultural da Cidade.

‘Paralelamente às atividades de documentação internacional e nacional, o IDART desenvolverá um ‘Programa de Divulgação das Atividades Artísticas de São Paulo’ já em fase prioritária. Encontra-se, em estudos, pela Assistência Técnica da Diretoria do Departamento, um tipo novo de ‘publicidade cultural’, que obedece a um critério didático informativo.’

Esse programa prevê a divulgação de informações sobre os eventos artísticos da cidade de São Paulo, pela imprensa, rádio, TV, cinema, ruas, estações, metrôs, etc. Terá, também, difusão estadual, nacional e latino americana.

‘Cuidará, ainda, o IDART de intercâmbio intensivo com instituições congêneres, nacionais e internacionais.’

‘O IDART pretende editar publicações de vários gêneros e instalar diversos laboratórios, para venda a preço de custo, de cópias de documentos recolhidos, como filmes, vídeo-tapes, fitas magnéticas gravadas, fotos, micro-filmes, xerocópias, qualquer outro tipo de reprografia documental.’

‘O ante-projeto de criação do Departamento de Informação Artísticas e de autoria da crítica de arte Maria Eugenia Franco, como diretora do extinto Departamento do Patrimônio Artístico-Cultural, da Secretaria Municipal de Cultura. Para sua elaboração, consultou vários especialistas. E sua Diretora, a convite da atual administração. (sic) Seu ante-projeto, criou, também, o Departamento do Patrimônio Histórico, para preservação e documentação específicas da cidade de São Paulo, proteção a monumentos e obras de valor artístico histórico a semelhança do que realiza o IPHAN, do MEC, em nível nacional.’

A esperança da diretora M. E. Franco

Maria Eugenia Franco, crítica de arte (‘Folha da Manhã’, ‘O Estado de S. Paulo’, nos anos 40/50), prêmio para o Melhor Trabalho Crítico sobre a II Bienal de São Paulo, organizadora e diretora da Seção de Arte da Biblioteca Municipal, onde manteve, durante 30 anos, uma atividade cultural de reconhecida importância para o nosso meio, é a diretora do IDART. Ela diz a Artes Visuais que o IDART, sigla adotada para o Departamento de Informação e Documentação Artística da Secretaria da Cultura, nasceu na administração do prefeito Colasuonno, sendo Secretário Municipal da Cultura, interino, Luiz Mendonça de Freitas, que como Secretário dos Negócios Extraordinários, havia transformado o antigo Departamento Municipal de Cultura em Secretaria Municipal de Cultura.

– ‘Há 40 anos quando Paulo Duarte, Mário de Andrade e outros, com apoio do Prefeito Fabio Prado, criaram o Departamento Municipal de Cultura, nada existia, no campo cultural das instituições de São Paulo. Agora, o Departamento estava atrofiado. A criação da Secretaria Municipal de Cultura foi importantíssima: concretizou uma possibilidade de desenvolvimento das atividades culturais da Prefeitura de São Paulo. Garantiu-lhes maiores verbas e uma ampliação das estruturas técnicas e administrativas. Forçou a descentralização para favorecer a expansão das várias áreas.

– ‘Quando estudei [a] lei da nova Secretaria, verifiquei que a Discoteca Municipal e a Biblioteca de Arte, criadas, respectivamente, por Mário de Andrade e Sergio Milliet: uma, há 40 anos, outra, há 30 anos, continuavam exatamente com a mesma estrutura, ou seja, tão atrofiadas quanto antes.

P – Qual foi sua atuação, diante desse fato:
R – Imediatamente, a do apelo, a do respeito de auxílio, a do protesto. Creio que tenho feito isto minha vida toda, pelas instituições da Prefeitura. Com a colaboração, esclarecida de Lenira Fracarolli, criadora e organizadora e ex-diretora da Biblioteca Infantil de São Paulo, falei com Dulce Sales Cunha Braga que, com sua argúcia de sempre, percebeu a importância do problema, levando-o a Dr. Luiz Mendonça de Freitas e ao Prefeito Miguel Colasuonno. Fui ouvida por Dr. Freitas com excepcional atenção a uma aguda compreensão de tudo que lhe expus. Dias depois, o Prefeito me convidou para dirigir o Departamento do Patrimônio artístico-Cultural, aonde se encontravam as instituições cuja defesa havia assumido. Inicialmente, recusei a honra do convite. Queria me dedicar a pesquisas, a trabalhos pessoais. Mas senti que não tinha o direto moral e cultural de negar minha colaboração. Conhecia o ‘interior’ dos problemas, e o convite me garantia plena liberdade para reformular o Departamento. Era uma oportunidade rara, que me permitiria, talvez, conseguir coisas de interesse público, pelas quais sempre lutei, algumas vezes sem resultados.’

– ‘Felizmente, deu certo: a ‘visão aberta’ encontrada na administração do prefeito Miguel Colasuonno e a lucidíssima colaboração de Dr. Luiz Mendonça de Freitas transformaram meu anteprojeto em lei. Graças, também, ao apoio total de Sábato Magaldi, ao auxílio tão firme da APCA, à atenção dos vários especialistas que consultei e à compreensão da Câmara Municipal. Mas, é justo lembrar-se: a lei foi sancionada pelo Prefeito Olavo Setubal, um homem que teve a superioridade de aprovar o projeto de seu antecessor, colocando os interesses culturais acima da competição política, num gesto rato e nobre.’

P – De onde nasceu seu projeto do IDART?
R – ‘Talvez tenha sido o resultado do ‘amadurecimento’ de experiências e vivências pessoais. Dirigi, durante trinta anos, uma Biblioteca Pluridisciplinar de Arte, e o ‘início’ de um Arquivo Documental de Arte Brasileira, onde comecei o registro dos eventos artísticos de São Paulo e da obra dos nossos artistas. Foi tudo logo paralisado, por falta de verba e de funcionários. Fiz também um estágio de seis meses, em 1948, no Setor de Documentação da UNESCO, ainda muito em começo, naquele após guerra. Nessas duas atualizações, vi e vivi sempre, ‘dificuldades’ funcionais, operacionais e materiais, para as tarefas do pesquisador, em instituições de natureza ‘para-universitária’.’

‘Por isso, no anteprojeto que elaborei, procurei definir uma estrutura orgânica, juridicamente protegida, de forma a dar aos programas culturais de trabalho, às pesquisas, sobretudo, condições necessárias à sua aplicação e ampliação progressivas. Continuava a tradição do ‘espírito de pesquisa’ iniciado, no Departamento de Cultura, por Mário de Andrade, com a colaboração de Oneyda Alvarenga e Luiz Sala.

Mas programei um organismo pluridisciplinar, justamente para impedir a tendência que têm os especialistas de se fecharem em seu campo de atividades, como se fosse um mundo único. A cultura, até mesmo em áreas específicas, como as disciplinas artísticas, é pluridisciplinar e, muitas vezes, interdisciplinar. É uma estrutura global, formada por vasos intercomunicantes. Deste conceito partiu meu projeto do Centro de Pesquisas de Arte Brasileira e do IDART, concebido também em função da arte internacional.

É curioso que, ignorando o projeto de Aloisio Magalhães, para a Fundação Cultural de Brasília, e ele, meu projeto, imaginamos organismos semelhantes, em sua preocupação básica: a de preservação da ‘memória’ nacional. Mas os projetos regionais poderão ‘alimentar’ no futuro, o Centro Nacional de Referência Cultural.’

P – Como se desenvolvem as pesquisas e a escolha dos pesquisadores?
R – ‘Os pesquisadores são escolhidos por currículo, exigindo-se formação universitária, especializada na área em que deverão trabalhar. Meu projeto inicial tinha dez áreas (estamos trabalhando com oito) e seis pesquisadores em cada área, para recolherem dados sobre o presente e o passado da vida artística paulista. Temos apenas a metade. Havia proposto, também, a contratação de estudantes, como ‘auxiliares de pesquisa’. Eles nos fazem muita falta para tarefas mais simples. Os pesquisadores mais experientes deveriam ser aproveitados para a análise da documentação recolhida, preparando publicações e outros ‘mídia’ de divulgação, para aproveitamento integral do material coletado. Há vários ‘níveis’, num trabalho concebido em grande escala.’

– ‘No IDART, a programação é decidida por um colegiado de especialistas, que constituem um ‘Conselho de Pesquisas’. Este Conselho é formado por mim, como Diretora do Departamento, os Assistentes Técnicos, Lais Moura, e Jurídico da Diretoria, procuradora Maria de Lourdes Ferreira, pelo diretor do Centro de Pesquisas, Décio Pignatari, e os supervisores de cada área especializada, cujos nomes são citados adiante. Nossas reuniões foram essenciais, sobretudo nos primeiros meses, para definirmos, num trabalho de equipe as diretrizes gerais e particulares da escolha dos temas a serem pesquisados e o desenvolvimento das várias tarefas.’

– ‘Estamos realizando, talvez, um programa inédito, no Brasil, ao nos propormos estudar e documentar os vários campos de cultura artística de São Paulo, tomada como laboratório de uma experiência de estética sociológica: levantamento e análise pluridisciplinar e interdisciplinar de uma cultura artística urbana, surgida numa cidade industrial brasileira.

– ‘Tive uma formação sociológica (Escola de Sociologia e Política e uma experiência marcante: assisti a aulas de Claude Lévi-Strauss). Talvez, por isso, penso muito em ter, em nossa equipe, especialistas em estética sociológica, para um enfoque científico, sob o ângulo sociológico, do material que está sendo levantado por nós.’

– ‘Quanto aos pesquisadores, serão garantidos seus ‘direitos autorais” e a ‘prioridade’ ao uso de elementos recolhidos, quando iniciadores de um trabalho, individualmente ou em equipe.’

– ‘Ainda não temos as condições ideais de trabalho. Não se monta um Centro de Pesquisas tão complexo, num ano apenas. Nos faltam ainda um local adequado, salas climatizadas para Arquivos, Oficinas gráficas, Laboratórios de som, fotografia e microfilmagem. Toda a estrutura operacional e técnica, enfim. Também os equipamentos para o Arquivo Documental e os métodos de armazenagem de documentos precisam ser rigorosamente estudados. Não temos a infra-estrutura indispensável.’

– ‘Mas, depois da visita do Prefeito Olavo Setubal e de um importante encontro do IDART com o governador Paulo Egidio Martins, passei a acreditar um pouco mais no futuro do nosso Departamento.’

Áreas e supervisores do Centro de Pesquisas

As áreas do Centro de Pesquisas de Arte Brasileira do IDART, e respectivos supervisores e equipes, são estas:

Arquitetura e Desenho Industrial – Supervisor, arquiteto Claudio da Rosa Ferlauto; pesquisadores: arquitetos Bluette Fortes Santa Clara, João Batista Novelli Junior, Luiz Otavio Zamarioli e Otavio Saito.

Artes Cênicas – Supervisora: Maria Thereza Vargas; pesquisadores: Carlos Eugenio Marcondes de Moura, Claudia de Alencar Bittencourt, Linneu Moreira Dias e Angela Muraro Alves de Lima (sic).

Artes Gráficas – Supervisor: Fernando Lemos; pesquisadores: Eduardo de Jesus Rodrigues e Hermelindo Fiaminghi, e Julio Plaza.

Artes Plásticas – Supervisor: Raphael Buongermino Netto; pesquisadores: Daisy Valle Machado Peccinini, Maria Vanessa Rego de Barros Cavalcanti, Radha Abramo, Regina Helena Dutra Rodrigues Ferreira da Silva e Sonia Pietro.

Arte Popular – Leila Coelho Frota.

Cinema – Supervisor: Carlos Roberto Rodrigues de Souza; pesquisadores: Eliana de Oliveira Queiroz, José Carvalho Motta e Zulmira Ribeiro Tavares.

Comunicação de massa – Supervisor: Decio Pignatari; pesquisadores: Carlos Alberto Valero de Figueiredo, Eliana Lobo de Andrade Jorge, Flávio Luiz Porto da Silva, Maria Luisa Biandy Vercesi (sic) e Rita Okamura.

Literatura e Semiótica – Supervisora: Lucrécia D’Alessio Ferrara; pesquisadores: Cristine Marie Tedeschi Conforti Serroni, Diná Yoshizak, Erson de Martins de Oliveira, Norval Baitello Junior.

Música e Som – Supervisor: Mastro Damiano Cozzella; pesquisadores: Dorotéa Machado Kerr, Fernando C. Duarte e Ricardo Lobo de Andrade.

Arquivo documental – Supervisora: Maria José Camargo de Carvalho


Fonte:
A preservação documentada da memória cultural.
Folha de S. Paulo, 31.10.1976, Ilustrada, Artes Visuais, p.56.
https://acervo.folha.com.br/digital/leitor.do?numero=6020&anchor=5868860  (acesso para assinantes)

Galeria: artigo “Memória artística de São Paulo”

Memória artística de São Paulo.
Folha de S Paulo, 19.12.1976, Artes visuais, p.96.
editor Luiz Ernesto Machado Kawall

(texto integral, nossos negritos,
obedecendo a grafia e pontuação original)

Quarto de uma série de cinco artigos
com entrevistas e comentários.

Por questões de espaço, “Artes Visuais” vem publicando, parceladamente, uma série de depoimentos sobre o IDART, Departamento de Informação e Documentação Artística, da Secretaria Municipal de Cultura, criado em maio de 1975.

Em reportagens iniciais, com entrevistas de Sábato Magaldi, Secretário Municipal de Cultura, Maria Eugênia Franco, autora do anteprojeto do IDART e sua diretora geral, e Décio Pignatari, diretor do Centro de Pesquisas de Arte Brasileira, daquele Departamento, informamos sobre sua história e programas de trabalho. (A.V., 31.10, 14.11 e 05.12).

Resultado da coordenção de pontos de vista, na área cultural, entre o Prefeito Miguel Colasuonno e o Prefeito Olavo Setúbal (o primeiro enviou o projeto de lei à Câmara Municipal e o segundo sancionou a lei), apoiado pelo autor da lei, o primeiro Secretário Municipal de Cultura, de São Paulo, Luiz Mendonça de Freitas, e seu sucessor, Sábato Magaldi, o IDART, depois de um ano, já pode contar o que está realizando seu Centro de Pesquisas de Arte Brasileira. O IDART incorpora ainda a Discoteca Municipal, criada por Mário de Andrade, organizada e dirigida por Oneyda Alvarenga, depois por Carmen Martins Helal, e a Biblioteca de Artes, antiga Seção de Arte da Biblioteca Municipal Mário de Andrade, criada por Sérgio Milliet, organizada e dirigida por Maria Eugênia Franco, agora sob a direção de Ruth von Ockel Diem. A Biblioteca de Artes está realizando, na vitrine da Biblioteca Municipal, e na ‘Sala de Arte Sérgio Milliet’, exposição didática e bibliográfica sobre a obra de Di Cavalcanti. Essa mostra, muito visitada, teve organização de Suely Cabrerizo, encarregada do Setor de Exposições Didáticas, com supervisão de Ruth von Ockel Diem.

Hoje apresentaremos informações sobre a primeira pesquisa, “São Paulo, direito e avesso”, nas quais os Supervisores de suas oito áreas de estudo e registro documental das atividades artísticas de São Paulo, apresentam o que cada equipe de pesquisadores estudou e coletou, no primeiro semestre deste ano: exemplos significativos do que a cidade fez, nos vários campos das artes, em manifestações tradicionais e nas que se encontram fora dos sistemas convencionais. A segunda etapa dos trabalhos complementou a primeira, permitindo um levantamento panorâmico das realizações artísticas de São Paulo, em 1976, numa importante ‘memória documental.”

O IDART está programando publicações, exposições e audio-visuais, de vários tipo, para divulgação das pesquisas realizadas.

Áreas de atuação do IDART

As oito áreas que compõem o IDART abrangem as mais diferentes manifestações artísticas, tais como: Música/Som, Literatura e Semiótica, Comunicações de Massa (Jornalismo, Publicidade, Rádio e Televisão), Cinema, Arte Popular (folclore), Artes Plásticas, Artes Gráficas, Artes Cênicas, Arquitetura e Desenho Industrial.

ARQUITETURA E DESENHO INDUSTRIAL

A pesquisa de Arquitetura e Desenho Industrial objetivou a análise de dois tipos de manifestação de arquitetura e design, em situações de extremos no universo da edificação em São Paulo. A caracterização dos extremos, definida a partir da investigação de dois grandes espaços, determinou a escolhas de: um lado o Parque Anhembi, identificado como o polo sofisticado da produção arquitetônica e do design; e de outro, o Circo no polo marginal dessa produção. Estes dois tipos de atividades culturais, surgem em situações específicas de necessidades, recursos, alcance urbano, criação e produção, tecnologia, realização e uso, o que é mostrado dentro da pesquisa nos universos formados pelo Circo e pelo Anhembi.

Espera o Centro de Pesquisas do IDART criar, no próximo ano, em caráter separado, a Área de Desenho Industrial, considerando sua importância, em São Paulo. Está sendo pleiteada ao Prefeito o retorno, ao departamento, de cargos de pesquisadores pertencentes ao projeto. Entre estes, alguns seriam reservados para especialistas em ‘industrial – design’.

Supervisor: Arquiteto Claudio da Rosa Ferlauto; Pesquisadores: Arquitetos Bluette Fortes Santa Clara, João Baptista Novelli Junior, Luiz Otavio Zamarioli e Otávio Saito.

ARTES GRÁFICAS

Levantamento global dos processos gráficos, para fins didáticos e eventuais edições em Super 8/Roteiro de Suporte adequado para a coleta de documentação/Armazenamento de informações sobre os métodos gráficos artesanais e eletrônicos do parque Industrial de São Paulo/Aspectos tecnológicos que na década de 1940 fizeram da Tipografia e da Litografia artesanal, um setor marginalizado da Indústria Gráfico-Cultural.

‘A Litografia Artesanal e a Eletrônica’ – Colocação dos grandes (e) pequenos cartazes dentro do contexto urbano.

‘O Outdoor e o Cartaz de Circo’ – um Sistema/Não Sistema – Os meios de criação, produção e distribuição desses cartazes em São Paulo.

Supervisor: Fernando Lemos. Pesquisadores: Eduardo de Jesus Rodrigues e Hermelindo Fiaminghi, especialistas em comunicação visual e artes gráficas. A equipe será integrada, agora, por Julio Plaza.

ARTES PLÁSTICAS

A área de Artes Plásticas focalizou a atividade artística em São Paulo no 1º semestre de 1976, através dos conceitos de LINGUAGENS CONVENCIONAIS e LINGUAGENS EXPERIMENTAIS, analisando os processos produtivos, os objetos/produtos e o sistemas de veiculação. Por linguagens Convencionais foram entendidos os trabalhos que utilizam processos produtivos mais ou menos enraizados em nossa tradição cultural: o desenho, a pintura e a gravura. Por Linguagens Experimentais entenderam-se os processos de produção artística que empregam novos recursos tecnológicos ou trabalhos de artistas que, por razões estéticas e/ou ideológicas procuram se desligar dos sistemas habituais de veiculação.

Supervisor: Raphael Buongermino Netto; Pesquisadores: Daisy Valle Machado Peccinini, Maria Vanessa Rego de Barros Cavalcanti, Radha Abramo, Regina Helena Dutra Rodrigues Ferreira da Silva e Sonia Prieto, todos portadores de títulos universitários na área de Artes Plásticas.

ARTE POPULAR

A pesquisadora e etnógrafa Lélia Coelho Frota iniciou a partir de setembro, pesquisa de arte popular, em São Paulo e periferia, documentando o contexto social e a tecnologia de artífices nordestinos atuantes no Brás e na Moóca.

Pretende-se desenvolver a documentação de arte popular, a partir do próximo ano, por intermédio de acordo com a Escola de Folclore, dirigida pelo Professor Rossini Tavares de Lima.

Nota da redação – No próximo domingo publicaremos a quinta e última reportagem sobre o IDART, com as outras áreas do Centro de pesquisas. A. V.



Fonte:
Memória artística de São Paulo.
Folha de S Paulo, 19.12.1976, Artes visuais, p.96.
https://acervo.folha.com.br/digital/leitor.do?numero=6069&anchor=4329482 (acesso para assinantes)

Galeria: artigo “De Sergio Milliet ao IDART”

De Sergio Milliet ao IDART.
Folha de S Paulo, 05.12.1976, Artes visuais, p.104.
editor Luiz Ernesto Machado Kawall
(texto integral, nossos negritos)

Terceiro de uma série de cinco artigos
com entrevistas e comentários.

São Paulo comemora o 10ª aniversário da morte de Sergio Milliet. Reconhecendo a grande importância da atuação de Sergio, para o desenvolvimento das artes plásticas, em São Paulo, Artes Visuais considera que a melhor homenagem a lhe ser prestada é a prova do desenvolvimento de seu trabalho pioneiro, iniciado na Biblioteca Municipal Mário de Andrade, com a colaboração da crítica de arte Maria Eugenia Franco, agora por ela continuado, com a criação do Departamento de Informação e Documentação Artísticas – IDART – na Secretaria Municipal de Cultura, de cujo projeto é autora e do qual é diretora geral.

– “Quando criou, na Biblioteca Municipal, a Seção de Arte, diz Maria Eugenia Franco, Sergio Milliet não planejou apenas uma biblioteca especializada. Naquela época, 1944, não existia, em São Paulo, nenhum Museu de Arte Moderna. Nem mesmo o Museu de Arte fora criado. Para estimular nossos artistas e iniciar um núcleo museológico, Sergio começou a comprar originais de artistas de São Paulo. Ninguém vendia nada. Sergio estabeleceu uma cota igual de valor, para todos, e começou a adquirir óleos, desenhos, gravuras e algumas esculturas. Esta atividade foi paralisada, a partir do surgimento dos Museus.” – “É projeto meu expor esta coleção, em conjunto, com as datas de tombamento das obras, como prova da atuação pioneira de Sergio Milliet, na área museológica de São Paulo”. – “Mas, nas artes plásticas, sua atuação não foi importante somente na Biblioteca. Como crítico de arte, estimulou artistas, orientou Salões de Arte Moderna e outras exposições. E foi ele o reformulador da Bienal de São Paulo. Sob sua direção, na 2ª, 3ª e 4ª Bienais, foram realizadas algumas das mais importantes manifestações nacionais e internacionais daquela Instituição.”

“No entanto, como o objetivo desta matéria é historiar o IDART, isto é ligar o início das realizações pioneiras de Sergio Milliet, na Biblioteca, com o trabalho atual, que estou desenvolvendo, na Secretaria Municipal de Cultura, é para mim uma questão ética e verdade histórica citar os nomes dos especialistas que consultei, ao elaborar o ante-projeto do IDART. Na área de patrimônio histórico, Luiz Saia, Nestor Goulart Reis Filho, Carlos Lemos, Hernani da Silva Bruno (sic) e Eduardo de Jesus Nascimento; para a Biblioteca de Arte, Maria Beatriz de Almeida, Laila Rahal, Yolanda Amadei, João Thomaz Ribeiro; sobre a Discoteca, Oneyda Alvarenga e Carmem Martins Helal. E a respeito do Centro de Pesquisas de Arte Brasileira, especialistas das várias disciplinas: Pietro Maria Bardi, Walter Zanini, Flávio Motta, Ernestina Karmann, Mário Gruber Correia, Wesley Duke Lee (Artes Plásticas), Décio Pignatari (Comunicação de Massa e Teoria da Informação), Alexandre Wollner e Fernando Lemos (Artes Gráficas), Paulo Emílio Sales Gomes e Rudá de Andrade (Cinema), Alfredo Mesquita, Décio de Almeida Prado, Miroel Silveira, Ilka Marinho Zanotto e Sábato Magaldi (Teatro). Esta reunião, realizada na casa de Alfredo Mesquita, tornou-se histórica, por dois motivos. Aí Sábato Magaldi tomou conhecimento do projeto, tendo portanto elementos para defendê-lo e apoiá-lo, quando se tornou Secretário Municipal de Cultura. E aí, também, ficou melhor definida a ação que teria a Associação Paulista de Críticos de Arte, junto à Câmara Municipal e o Prefeito Miguel Colasuonno. A atuação firme e brilhantíssima de Ilka Zanotto, como então presidente da APCA, acompanhada por Ernestina Karmann, a primeira a levar o problema à Associação, Helena Silveira, José da Veiga Oliveira e Eduardo de Jesus Nascimento prova a importância do apoio de entidades especializadas aos problemas de nossas instituições culturais.”

“Mais uma vez, quero repetir meu agradecimento, a Luiz Mendonça de Freitas, Secretário de Negócios Extraordinários do Prefeito Miguel Colasuonno, por ter sido o autor da lei que criou o IDART. E agradeço também o apoio do pintor Mario Gruber Correia, a favor do IDART, junto ao Governador Paulo Egydio Martins, que tão bem compreendeu nosso trabalho.”

-“Mas depois de ter ouvido os responsáveis pela montagem e implantação do Centro de Pesquisas do IDART, muito tem a contar, sinteticamente, cada um dos Supervisores das Assessorias Técnicas de Pesquisa, dirigindo equipes de especialistas, em dez áreas de disciplinas artísticas, que trabalham pela ‘preservação da memória nacional’, no campo das realizações de uma cidade de características tão definidas como São Paulo e a Grande São Paulo, ou seja, a arte nascida num centro industrial brasileiro. Narram eles a prova confortadora do início de um importante trabalho”.

Nota da R. – Por absoluta falta de espaço, Artes Visuais deixa de publicar, hoje, a súmula dos trabalhos dos supervisores do Centro de Pesquisas do IDART, o que faremos em próxima edição. AV publicou dia 31/10 uma página sobre o projeto e programas do IDART, com entrevista de Sábado Magaldi e Maria Eugenia Franco. Posteriormente, em 14/11, publicamos uma entrevista de Décio Pignatari, diretor do Centro de Pesquisas de Arte Brasileira do IDART.


Fonte:
De Sergio Milliet ao IDART. Folha de S. Paulo, 05.12.1976, Artes visuais, p.104.
https://acervo.folha.com.br/digital/leitor.do?numero=6055&anchor=4270672 (acesso para assinantes)

Galeria: artigo “A periferia nos planos do secretário” – Mario Chamie

A periferia nos planos do secretário.
O Estado de S Paulo, 16.09.1979, p.55.
Série Quem empresa a arte, I
(texto parcial)

Dois meses após sua posse como secretário municipal de cultura
Mario Chamie responde a uma roda de entrevistadores.

(Abertura)
“Nos quase dois meses como secretário municipal da Cultura, Mário Chamie – o intelectual que substituiu outro intelectual, Sábato Magaldi – traçou sua linha política em consonância com a administração Reynaldo de Barros, cuja preocupação maior é a periferia. Um de seus projetos mais ousados é o do Arquivo Itinerante, de tal forma elaborado a praticamente resolver o problema de verbas e a criar um mercado de trabalho para artistas. Sua política de descentralização e popularização da cultura inclui a reformulação do sistema de semanas, cursos, simpósios e palestras; a criação de um cinema da municipalidade; a abertura do Idart e do Municipal ao grande público, principalmente para espetáculos internacionais, com récitas a preços reduzidos ou grátis.



“Sheila Leirner, Nilo Scalzo, Carlos Motta, Liane Alves, Zuza Homem de Mello, Clóvis Garcia – todos críticos das diferentes áreas de arte em O Estado de S. Paulo – levantam, junto ao secretário de Cultura do Município, os principais problemas que afetam os criadores para distribuir seu produto cultural.”

(…)

Liane Alves (Televisão) – São Paulo é uma cidade desmemoriada. No Idart (Departamento de Documentação e Informação Artísticas) existem vídeo-cassetes, slides, fotografias e filmes referentes à memória da cidade, trancados a sete chaves, inacessíveis para uma consulta regular e constante da população. Por que não abrir as portas do Idart, patrocinar eventos, ministrar cursos, exibir filmes e fotografias, convidando o público, indo às escolas, para que a memória de São Paulo não fique fechada em algum cubículo inacessível?

Mário Chamie – Concordo com você quando diz ‘cubículo inacessível’ referindo-se ao Idart. Na verdade, é isso o que vem ocorrendo pela precariedade das instalações. Os espaços são de tal ordem limitados que as condições de consulta aos arquivos do Idart são praticamente nulas. Acrescenta-se a isso o fato de não se ter, também, adotado uma política de ‘oferta’ do acervo em benefício dos diversos públicos interessados. Meu objetivo é estabelecer essa política. Nesse ‘cubículo’, a memória cultural de São Paulo corre o risco de morrer asfixiada e, se alguém não abrir janelas para deixar o ar entrar, estaremos contribuindo para a destruição da nossa identidade. Contra esse mobilismo (sic) do arquivo temos tomado algumas iniciativas. O Projeto do Arquivo Itinerante, e outros complementares, procurarão aliviar ou superar esse estado de coisas. No momento está-se fazendo a reforma da antiga casa da 1ª Delegacia, ao lado da Casa da Marquesa (na rua Roberto Simonsen), onde está instalada a Secretaria Municipal de Cultura, dentro dos próximos dois ou três meses, o Idart ou parte dele para lá. Considero, porém, essa solução ainda provisória.”

Fonte:
A periferia nos planos do secretário. O Estado de S. Paulo, 16.09.1979, p.55 (acesso em: 06.01.2025) https://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19790916-32058-spo-0055-999-55-not (acesso para assinantes)

Galeria: artigo “Idart abre ao público suas pesquisas e arquivo de arte”

Idart abre ao público pesquisas e arquivo de arte.
O Estado de S. Paulo, 13.06.1979, p.11.
(texto integral)

“Mesmo sabendo que está em instalações precárias para satisfazer de maneira ideal seus serviços, o Idart (Departamento de Informações e Documentação Artística), da Secretaria Municipal de Cultura, resolveu abrir esta semana, na sua sede – rua Roberto Simonsen, 136 – o Arquivo Multimeios do Centro de Pesquisas para o público e pesquisadores. O horário de atendimento é das 8 às 11e30, de segunda a sexta, devendo, preferencialmente, o interessado consultar com um dia de antecedência a disponibilidade para que haja a devida orientação de um bibliotecário específico.

O Arquivo reúne informações contemporâneas sobre arquitetura, artes cênicas, plásticas e gráficas, cinema, comunicação de massa, além de literatura e música. São documentos que abordam todas as atividades registradas nestes campos, desde 1977, no município de São Paulo, com o devido currículo de cada pessoa participante, as críticas que saíram publicadas em jornais e o registro visual (diapositivos, filmes).

O Idart foi criado com a intenção de memorizar o processo cultural da cidade e o supervisor do Arquivo, Darwin Pavan Filho, explica que a iniciativa só agora se concretizou, porque todos esperavam uma mudança de local, o que acabou não acontecendo.

O Idart existe há três anos, passando pela fase de implantação no ano de 1976, seguindo-se a etapa de busca de subsídios, que só puderam ser expostos efetivamente em 1978, já que uma grande quantidade de pesquisas chega a durar praticamente um ano ou mais. “Como não temos datas de mudanças, resolvemos aproveitar o horário ocioso durante a manhã. Assim conseguimos dar um atendimento adequado às necessidades de cada indivíduo. Fisicamente nós temos condições de atender 20 pessoas por dia, mas isso vai depender do tipo de consulta, já que um colégio pode dispensar um bibliotecário e se reunir num espaço pequeno sem alterações maiores.”

Muitas pesquisas do Instituto ainda estão em andamento. É o caso das introdução à arquitetura atual de São Paulo. Outros, como o futebol, dependem diariamente da inserção de novas informações. Ainda inédito, este assunto é abordado em todos os meios artísticos possíveis com a série de detalhes constatada no meio das artes plásticas, cinema, música, artes cênicas e assim por diante. Há aproximadamente 12 publicações no prelo, que ainda não saíram, devido à falta de verbas para as edições.

Até o momento foram publicados os anuários de Artes Plásticas, um Manual de Identificação e um índice de eventos.

Por enquanto, o Idart não realizou qualquer tipo de convênio. Alguns contatos estão sendo mantidos com a Funarte, a fim de alargar as possibilidades de pesquisa, embora não haja interesse em ampliar os limites físicos estabelecidos. Em números, as pesquisas já prontas são aproximadamente 100. No ano passado, o Idart, com suas oito áreas de atuação, juntou pouco mais de 27 mil recortes de jornais, que somam com os dois anos anteriores e os de 1979, a 45 mil. Possui 30 mil documentos visuais, três mil fitas gravadas, 80 filmes super-8 e nove mil cartazes. À disposição dos interessados estão também arquivos menores com dados de alguns artistas, críticos e escritores. É sua uma discoteca que, de acordo com Darwin Pavan Filho, é o maior acervo de discos e partituras do Brasil e uma biblioteca de arte brasileira e internacional. Quase todas as peças podem ser duplicadas e, se alguém quiser uma cópia, pode pedir automaticamente, devendo pagar uma quantia estabelecida pela prefeitura.”

(nossos negritos)