Galeria: artigo “Memória artística de São Paulo”

Memória artística de São Paulo.
Folha de S Paulo, 19.12.1976, Artes visuais, p.96.
editor Luiz Ernesto Machado Kawall

(texto integral, nossos negritos,
obedecendo a grafia e pontuação original)

Quarto de uma série de cinco artigos
com entrevistas e comentários.

Por questões de espaço, “Artes Visuais” vem publicando, parceladamente, uma série de depoimentos sobre o IDART, Departamento de Informação e Documentação Artística, da Secretaria Municipal de Cultura, criado em maio de 1975.

Em reportagens iniciais, com entrevistas de Sábato Magaldi, Secretário Municipal de Cultura, Maria Eugênia Franco, autora do anteprojeto do IDART e sua diretora geral, e Décio Pignatari, diretor do Centro de Pesquisas de Arte Brasileira, daquele Departamento, informamos sobre sua história e programas de trabalho. (A.V., 31.10, 14.11 e 05.12).

Resultado da coordenção de pontos de vista, na área cultural, entre o Prefeito Miguel Colasuonno e o Prefeito Olavo Setúbal (o primeiro enviou o projeto de lei à Câmara Municipal e o segundo sancionou a lei), apoiado pelo autor da lei, o primeiro Secretário Municipal de Cultura, de São Paulo, Luiz Mendonça de Freitas, e seu sucessor, Sábato Magaldi, o IDART, depois de um ano, já pode contar o que está realizando seu Centro de Pesquisas de Arte Brasileira. O IDART incorpora ainda a Discoteca Municipal, criada por Mário de Andrade, organizada e dirigida por Oneyda Alvarenga, depois por Carmen Martins Helal, e a Biblioteca de Artes, antiga Seção de Arte da Biblioteca Municipal Mário de Andrade, criada por Sérgio Milliet, organizada e dirigida por Maria Eugênia Franco, agora sob a direção de Ruth von Ockel Diem. A Biblioteca de Artes está realizando, na vitrine da Biblioteca Municipal, e na ‘Sala de Arte Sérgio Milliet’, exposição didática e bibliográfica sobre a obra de Di Cavalcanti. Essa mostra, muito visitada, teve organização de Suely Cabrerizo, encarregada do Setor de Exposições Didáticas, com supervisão de Ruth von Ockel Diem.

Hoje apresentaremos informações sobre a primeira pesquisa, “São Paulo, direito e avesso”, nas quais os Supervisores de suas oito áreas de estudo e registro documental das atividades artísticas de São Paulo, apresentam o que cada equipe de pesquisadores estudou e coletou, no primeiro semestre deste ano: exemplos significativos do que a cidade fez, nos vários campos das artes, em manifestações tradicionais e nas que se encontram fora dos sistemas convencionais. A segunda etapa dos trabalhos complementou a primeira, permitindo um levantamento panorâmico das realizações artísticas de São Paulo, em 1976, numa importante ‘memória documental.”

O IDART está programando publicações, exposições e audio-visuais, de vários tipo, para divulgação das pesquisas realizadas.

Áreas de atuação do IDART

As oito áreas que compõem o IDART abrangem as mais diferentes manifestações artísticas, tais como: Música/Som, Literatura e Semiótica, Comunicações de Massa (Jornalismo, Publicidade, Rádio e Televisão), Cinema, Arte Popular (folclore), Artes Plásticas, Artes Gráficas, Artes Cênicas, Arquitetura e Desenho Industrial.

ARQUITETURA E DESENHO INDUSTRIAL

A pesquisa de Arquitetura e Desenho Industrial objetivou a análise de dois tipos de manifestação de arquitetura e design, em situações de extremos no universo da edificação em São Paulo. A caracterização dos extremos, definida a partir da investigação de dois grandes espaços, determinou a escolhas de: um lado o Parque Anhembi, identificado como o polo sofisticado da produção arquitetônica e do design; e de outro, o Circo no polo marginal dessa produção. Estes dois tipos de atividades culturais, surgem em situações específicas de necessidades, recursos, alcance urbano, criação e produção, tecnologia, realização e uso, o que é mostrado dentro da pesquisa nos universos formados pelo Circo e pelo Anhembi.

Espera o Centro de Pesquisas do IDART criar, no próximo ano, em caráter separado, a Área de Desenho Industrial, considerando sua importância, em São Paulo. Está sendo pleiteada ao Prefeito o retorno, ao departamento, de cargos de pesquisadores pertencentes ao projeto. Entre estes, alguns seriam reservados para especialistas em ‘industrial – design’.

Supervisor: Arquiteto Claudio da Rosa Ferlauto; Pesquisadores: Arquitetos Bluette Fortes Santa Clara, João Baptista Novelli Junior, Luiz Otavio Zamarioli e Otávio Saito.

ARTES GRÁFICAS

Levantamento global dos processos gráficos, para fins didáticos e eventuais edições em Super 8/Roteiro de Suporte adequado para a coleta de documentação/Armazenamento de informações sobre os métodos gráficos artesanais e eletrônicos do parque Industrial de São Paulo/Aspectos tecnológicos que na década de 1940 fizeram da Tipografia e da Litografia artesanal, um setor marginalizado da Indústria Gráfico-Cultural.

‘A Litografia Artesanal e a Eletrônica’ – Colocação dos grandes (e) pequenos cartazes dentro do contexto urbano.

‘O Outdoor e o Cartaz de Circo’ – um Sistema/Não Sistema – Os meios de criação, produção e distribuição desses cartazes em São Paulo.

Supervisor: Fernando Lemos. Pesquisadores: Eduardo de Jesus Rodrigues e Hermelindo Fiaminghi, especialistas em comunicação visual e artes gráficas. A equipe será integrada, agora, por Julio Plaza.

ARTES PLÁSTICAS

A área de Artes Plásticas focalizou a atividade artística em São Paulo no 1º semestre de 1976, através dos conceitos de LINGUAGENS CONVENCIONAIS e LINGUAGENS EXPERIMENTAIS, analisando os processos produtivos, os objetos/produtos e o sistemas de veiculação. Por linguagens Convencionais foram entendidos os trabalhos que utilizam processos produtivos mais ou menos enraizados em nossa tradição cultural: o desenho, a pintura e a gravura. Por Linguagens Experimentais entenderam-se os processos de produção artística que empregam novos recursos tecnológicos ou trabalhos de artistas que, por razões estéticas e/ou ideológicas procuram se desligar dos sistemas habituais de veiculação.

Supervisor: Raphael Buongermino Netto; Pesquisadores: Daisy Valle Machado Peccinini, Maria Vanessa Rego de Barros Cavalcanti, Radha Abramo, Regina Helena Dutra Rodrigues Ferreira da Silva e Sonia Prieto, todos portadores de títulos universitários na área de Artes Plásticas.

ARTE POPULAR

A pesquisadora e etnógrafa Lélia Coelho Frota iniciou a partir de setembro, pesquisa de arte popular, em São Paulo e periferia, documentando o contexto social e a tecnologia de artífices nordestinos atuantes no Brás e na Moóca.

Pretende-se desenvolver a documentação de arte popular, a partir do próximo ano, por intermédio de acordo com a Escola de Folclore, dirigida pelo Professor Rossini Tavares de Lima.

Nota da redação – No próximo domingo publicaremos a quinta e última reportagem sobre o IDART, com as outras áreas do Centro de pesquisas. A. V.



Fonte:
Memória artística de São Paulo.
Folha de S Paulo, 19.12.1976, Artes visuais, p.96.
https://acervo.folha.com.br/digital/leitor.do?numero=6069&anchor=4329482 (acesso para assinantes)

Galeria: artigo “De Sergio Milliet ao IDART”

De Sergio Milliet ao IDART.
Folha de S Paulo, 05.12.1976, Artes visuais, p.104.
editor Luiz Ernesto Machado Kawall
(texto integral, nossos negritos)

Terceiro de uma série de cinco artigos
com entrevistas e comentários.

São Paulo comemora o 10ª aniversário da morte de Sergio Milliet. Reconhecendo a grande importância da atuação de Sergio, para o desenvolvimento das artes plásticas, em São Paulo, Artes Visuais considera que a melhor homenagem a lhe ser prestada é a prova do desenvolvimento de seu trabalho pioneiro, iniciado na Biblioteca Municipal Mário de Andrade, com a colaboração da crítica de arte Maria Eugenia Franco, agora por ela continuado, com a criação do Departamento de Informação e Documentação Artísticas – IDART – na Secretaria Municipal de Cultura, de cujo projeto é autora e do qual é diretora geral.

– “Quando criou, na Biblioteca Municipal, a Seção de Arte, diz Maria Eugenia Franco, Sergio Milliet não planejou apenas uma biblioteca especializada. Naquela época, 1944, não existia, em São Paulo, nenhum Museu de Arte Moderna. Nem mesmo o Museu de Arte fora criado. Para estimular nossos artistas e iniciar um núcleo museológico, Sergio começou a comprar originais de artistas de São Paulo. Ninguém vendia nada. Sergio estabeleceu uma cota igual de valor, para todos, e começou a adquirir óleos, desenhos, gravuras e algumas esculturas. Esta atividade foi paralisada, a partir do surgimento dos Museus.” – “É projeto meu expor esta coleção, em conjunto, com as datas de tombamento das obras, como prova da atuação pioneira de Sergio Milliet, na área museológica de São Paulo”. – “Mas, nas artes plásticas, sua atuação não foi importante somente na Biblioteca. Como crítico de arte, estimulou artistas, orientou Salões de Arte Moderna e outras exposições. E foi ele o reformulador da Bienal de São Paulo. Sob sua direção, na 2ª, 3ª e 4ª Bienais, foram realizadas algumas das mais importantes manifestações nacionais e internacionais daquela Instituição.”

“No entanto, como o objetivo desta matéria é historiar o IDART, isto é ligar o início das realizações pioneiras de Sergio Milliet, na Biblioteca, com o trabalho atual, que estou desenvolvendo, na Secretaria Municipal de Cultura, é para mim uma questão ética e verdade histórica citar os nomes dos especialistas que consultei, ao elaborar o ante-projeto do IDART. Na área de patrimônio histórico, Luiz Saia, Nestor Goulart Reis Filho, Carlos Lemos, Hernani da Silva Bruno (sic) e Eduardo de Jesus Nascimento; para a Biblioteca de Arte, Maria Beatriz de Almeida, Laila Rahal, Yolanda Amadei, João Thomaz Ribeiro; sobre a Discoteca, Oneyda Alvarenga e Carmem Martins Helal. E a respeito do Centro de Pesquisas de Arte Brasileira, especialistas das várias disciplinas: Pietro Maria Bardi, Walter Zanini, Flávio Motta, Ernestina Karmann, Mário Gruber Correia, Wesley Duke Lee (Artes Plásticas), Décio Pignatari (Comunicação de Massa e Teoria da Informação), Alexandre Wollner e Fernando Lemos (Artes Gráficas), Paulo Emílio Sales Gomes e Rudá de Andrade (Cinema), Alfredo Mesquita, Décio de Almeida Prado, Miroel Silveira, Ilka Marinho Zanotto e Sábato Magaldi (Teatro). Esta reunião, realizada na casa de Alfredo Mesquita, tornou-se histórica, por dois motivos. Aí Sábato Magaldi tomou conhecimento do projeto, tendo portanto elementos para defendê-lo e apoiá-lo, quando se tornou Secretário Municipal de Cultura. E aí, também, ficou melhor definida a ação que teria a Associação Paulista de Críticos de Arte, junto à Câmara Municipal e o Prefeito Miguel Colasuonno. A atuação firme e brilhantíssima de Ilka Zanotto, como então presidente da APCA, acompanhada por Ernestina Karmann, a primeira a levar o problema à Associação, Helena Silveira, José da Veiga Oliveira e Eduardo de Jesus Nascimento prova a importância do apoio de entidades especializadas aos problemas de nossas instituições culturais.”

“Mais uma vez, quero repetir meu agradecimento, a Luiz Mendonça de Freitas, Secretário de Negócios Extraordinários do Prefeito Miguel Colasuonno, por ter sido o autor da lei que criou o IDART. E agradeço também o apoio do pintor Mario Gruber Correia, a favor do IDART, junto ao Governador Paulo Egydio Martins, que tão bem compreendeu nosso trabalho.”

-“Mas depois de ter ouvido os responsáveis pela montagem e implantação do Centro de Pesquisas do IDART, muito tem a contar, sinteticamente, cada um dos Supervisores das Assessorias Técnicas de Pesquisa, dirigindo equipes de especialistas, em dez áreas de disciplinas artísticas, que trabalham pela ‘preservação da memória nacional’, no campo das realizações de uma cidade de características tão definidas como São Paulo e a Grande São Paulo, ou seja, a arte nascida num centro industrial brasileiro. Narram eles a prova confortadora do início de um importante trabalho”.

Nota da R. – Por absoluta falta de espaço, Artes Visuais deixa de publicar, hoje, a súmula dos trabalhos dos supervisores do Centro de Pesquisas do IDART, o que faremos em próxima edição. AV publicou dia 31/10 uma página sobre o projeto e programas do IDART, com entrevista de Sábado Magaldi e Maria Eugenia Franco. Posteriormente, em 14/11, publicamos uma entrevista de Décio Pignatari, diretor do Centro de Pesquisas de Arte Brasileira do IDART.


Fonte:
De Sergio Milliet ao IDART. Folha de S. Paulo, 05.12.1976, Artes visuais, p.104.
https://acervo.folha.com.br/digital/leitor.do?numero=6055&anchor=4270672 (acesso para assinantes)