
Enviado por Fátima Arcoverde (2024.12.20). Autoria desconhecida.
Um estudo sobre memória cultural, estado e preservação
Texto da curadora Sonia Fontanezi para a mostra Idart 30 anos,
realizada no CCSP (12.05 a 05.08.2007).
Enviado por Maria Adelaide Pontes em 12.12.2024.
Os anos 1970 no Brasil, foram marcados também, pela riqueza dos caminhos culturais desenhados nos anos 50, quando São Paulo inicia sua conversa com o mundo, através do espírito modernista na Arquitetura, na Poesia Concreta, nas Artes Plásticas.
A diversidade dessa produção cultural nacional fez com que Maria Eugênia Franco, responsável então pela seção de arte da Biblioteca Mario de Andrade, idealizasse um projeto de criação para um centro, onde o foco principal seria a pesquisa da Arte Brasileira Contemporânea. Este projeto foi concretizado em 20 de maio de 1975, pela Lei 8252, com a criação do Departamento de Informação e Documentação Artísticas, instalado em janeiro de 1976 na chamada Casa da Marquesa, junto à Secretaria de Cultura. O IDART, cuja primeira diretora foi Mária Eugênia, absorveu a antiga Biblioteca de Arte da Biblioteca Mário de Andrade e a antiga Discoteca Municipal, inaugurando na cidade, um trabalho de pesquisa, vinculado à criação e à investigação artísticas, que viria a ser conhecido nacionalmente.
A viabilização desse Departamento é de autoria de Décio Pignatari, que também foi seu primeiro diretor. Um instrumento contemporâneo na época, que em sua gênese aponta para o futuro. Em 1975, êle previa a organização e recuperação não mecânica da informação. Desde 1963, Décio estuda a questão da linguagem através da semiótica e das teorias da informação e comunicação. Esse trabalho está em plena sicronia com sua obra.
É de 1973, seu poema Noosfera*, que para além de sua concretude poética, aponta também, para a hoje chamada telesfera (documentos disponíveis na Web). Hoje, a prática eletrônica do pensamento já se realizou no cotidiano – a ferramenta digital, já está incorporada ao nosso sistema de percepção, fazendo parte integrante da nossa forma de assimilar, investigar, interpretar e recriar o mundo.
Para Décio Pignatari, em 1975, a Hemeroteca e Arquivo Multimeios significou célula básica para o Núcleo de Recuperação da Informação – o Banco de Dados, visando a implantação de sistemas de recuperação digital, com um modelo de documentação contínua, por 20 anos ao longo do tempo. Este trabalho continua sendo feito em bases semi-artesanais, tentando manter viva a informação ali depositada, ao longo do tempo, em sua diversificação de técnicas suportes e linguagens.
O Centro de Pesquisas foi em 1976 uma novidade institucional e cultural, que São Paulo apresentou. Os caminhos ali apontados e os possíveis percursos continuam sendo únicos.
O acervo do IDART se configura hoje como produto de 32 anos de pesquisa e documentação, construído na relação e confronto entre a natureza do objeto analisado e sua relação com a natureza do instrumento de leitura, gerados pelo próprio objeto e sua compreensão. Com reconhecimento ou recusa deste princípio, o trabalho se realizou ao longo do tempo e sua importância se legitimou e é única.
A forma de seleção e organizaçãp do material para esta mostra surge da grande quantidade de documentos armazenados neste Acervo. Como toda quantidade, instiga o crivo para a qualidade. Apresentamos o material em diferentes suportes, para que os documentos se mostrem em sua singularidade e diversidade, dispostos em linha do tempo, um fio condutor que permite foco nos objetos, e ao mesmo tempo propicia relações entre êles.
A disposição simultânea, visa uma espécie de mostruário, apontando para uma possível tipologia. Depois de conviverem separados por área de conhecimento por tanto tempo, nós os devolvemos ao espaço público de exposição, na situação em que foram coletados, retiramos dêles o confinamento para que tambén se relacionem entre si, nesta mostra.
Todos os profissionais do atual Arquivo Multimeios do CCSP, participaram ativamente da seleção dos documentos mais significativos em suas áreas de especialização, assim como do projeto e da produção desta mostra.
Desde o primeiro momento, impôs-se como uma grande citação e homenagem, a visualidade das edições do Laboratório Gráfico do Idart, que impõe sua atualidade em relação aos meios de produção atuais. Sua personalidade gráfica foi delineada por Cláudio Ferlauto, Décio Pignatari e Fernando Lemos, em 1975. Desenvolvida e aplicada pelo próprio Fernando , até 1978. Para essa vestimenta, nos permitimos algumas licenças que o tempo, a tecnologia e as condições de produção impõem, ou permitem.
Esta mostra é portanto esse mostruário aberto , um testemunho e um registro discreto, do pensamento e do fazer cotidiano de profissionais que, ao longo de 32 anos, seja qual for o vínculo com o Idart, ou sua intensidade, dedicaram a intregridade do seu trabalho ao projeto e tornaram possível este Acervo e o seu futuro.
Nós nos incluímos entre êles.
São Paulo, maio de 2007