Cadernos de Pesquisa, por Martin Grossmann

O diretor do CCSP, Martin Grossmann, apresenta a coleção comemorativa dos 30 anos do IDART, em 2007. Veja o texto completo:

“A ‘Coleção cadernos de pesquisa’ é composta por fascículos produzidos pelos pesquisadores da Divisão de Pesquisas do Centro Cultural São Paulo, que sucedeu o Centro de Pesquisas sobre Arte Brasileira Contemporânea do antigo Idart (Departamento de Informação e Documentação Artística). Como parte das comemorações dos 30 anos do Idart, as Equipes Técnicas de Pesquisa e o Arquivo Multimeios elaboraram vinte fascículos, que agora são publicados no site do CCSP. A Coleção apresenta uma rica diversidade temática, de acordo com a especificidade de cada Equipe em sua área de pesquisa – cinema, desenho industrial/artes gráficas, teatro, televisão, fotografia, música – e acaba por refletir a heterogeneidade das fontes documentais armazenadas no Arquivo Multimeios do Idart.

“É importante destacar que a atual gestão prioriza a manutenção da tradição de pesquisa que caracteriza o Centro Cultural desde sua criação, ao estimular o espírito de pesquisa nas atividades de todas as divisões. Programação, ação, mediação e acesso cultural, conservação e documentação, tornam-se, assim, vetores indissociáveis.

“Alguns fascículos trazem depoimentos de profissionais referenciais nas áreas em que estão inseridos, seguindo um roteiro em que a trajetória pessoal insere-se no contexto histórico. Outros fascículos são estrutura- dos a partir da transcrição de debates que ocorreram no CCSP. Esta forma de registro – que cria uma memória documental a partir de depoimentos pessoais – compunha uma prática do antigo Idart.

“Os pesquisadores tiveram a preocupação de registrar e refletir sobre certas vertentes da produção artística brasileira. Tomemos alguns exemplos: o pesquisador André Gatti mapeia e identifica as principais tendências que caracterizaram o desenvolvimento da exibição comercial na cidade de São Paulo em ‘A exibição cinematográfica: ontem, hoje e amanhã’. Mostra o novo painel da exibição brasileira contemporânea em Memória da Dança em São Paulo focando o surgimento de alguns novos circuitos e as perspectivas futuras das salas de exibição.

“Já ‘A criação gráfica 70/90: um olhar sobre três décadas’, de Márcia Denser e Márcia Marani traz ênfase na criação gráfica como o setor que realiza a identidade corporativa e o projeto editorial. Há transcrição de depoimentos de 10 significativos designers brasileiros, em que a experiência pessoal é inserida no universo da criação gráfica.

““A evolução do design de mobília no Brasil (mobília brasileira contemporânea)”, de Cláudia Bianchi, Marcos Cartum e Maria Lydia Fiammingui trata da trajetória do desenho industrial brasileiro a partir da década de 1950, enfocando as particularidades da evolução do design de móvel no Brasil.

“A evolução de novos materiais, linguagens e tecnologias também encontra-se em ‘Novas linguagens, novas tecnologias’, organizado por Andréa Andira Leite, que traça um panorama das tendências do design brasileiro das últimas duas décadas.

“‘Caderno Seminário Dramaturgia’, de Ana Rebouças traz a transcrição do “Seminário interações, interferências e transformações: a prática da dramaturgia” realizado no CCSP, enfocando questões relacionadas ao desenvolvimento da dramaturgia brasileira contemporânea. Procurando suprir a carência de divulgação do trabalho de grupos de teatro infantil e jovem da década de 80, ‘Um pouquinho do teatro infantil’, organizado por Maria José de Almeida Battaglia, traz o resultado de uma pesquisa documental realizada no Arquivo Multimeios.

“A documentação fotográfica, que constituiu uma prática sistemática das equipes de pesquisa do Idart durante os anos de sua existência, é evidenciada no fascículo organizado por Marta Regina Paolicchi, ‘Fotografia: Fredi Kleemann’, que registrou importantes momentos da cena teatral brasileira.

“Na área de música, um panorama da composição contemporânea e da música nova brasileira é revelado em ‘Música Contemporânea I’ e ‘Música Contemporânea II’ – que traz depoimentos dos compositores Flô Menezes, Edson Zampronha, Sílvio Ferrraz, Mário Ficarelli e Marcos Câmara. Já ‘Tributos Música Brasileira’ presta homenagem a personalidades que contribuíram para a música paulistana, trazendo transcrições de entrevistas com a folclorista Oneyda Alvarenga, com o compositor Camargo Guarnieri e com a compositora Lina Pires de Campos.

“Esperamos com a publicação dos e-books ‘Coleção cadernos de pesquisa’, no site do CCSP, democratizar o acesso a parte de seu rico acervo, utilizando a mídia digital como um poderoso canal de extroversão, e caminhando no sentido de estruturar um centro virtual de referência cultural e artística. Dessa forma, a iniciativa está em consonância com a atual concepção do CCSP, que prioriza a interdisciplinaridade, a comunicação entre as divisões e equipes, a integração de pesquisa na esfera do trabalho curatorial e a difusão de nosso acervo de forma ampla.”

Martin Grossmann
Diretor


Reproduzido do volume 4, p.4-6.
COELHO, Maria Cristina Barbosa Lopes (org.), XAVIER, Renata Ferreira (org.). Memória da Dança em São Paulo. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 2007. 92p. (cadernos de pesquisa; v. 4) (download)

Idart 30 anos, apresentação

Texto da curadora Sonia Fontanezi para a mostra Idart 30 anos,
realizada no CCSP (12.05 a 05.08.2007).
Enviado por Maria Adelaide Pontes em 12.12.2024.

Os anos 1970 no Brasil, foram marcados também, pela riqueza dos caminhos culturais desenhados nos anos 50, quando São Paulo inicia sua conversa com o mundo, através do espírito modernista na Arquitetura, na Poesia Concreta, nas Artes Plásticas.

A diversidade dessa produção cultural nacional fez com que Maria Eugênia Franco, responsável então pela seção de arte da Biblioteca Mario de Andrade, idealizasse um projeto de criação para um centro, onde o foco principal seria a pesquisa da Arte Brasileira Contemporânea. Este projeto foi concretizado em 20 de maio de 1975, pela Lei 8252, com a criação do Departamento de Informação e Documentação Artísticas, instalado em janeiro de 1976 na chamada Casa da Marquesa, junto à Secretaria de Cultura. O IDART, cuja primeira diretora foi Mária Eugênia, absorveu a antiga Biblioteca de Arte da Biblioteca Mário de Andrade e a antiga Discoteca Municipal, inaugurando na cidade, um trabalho de pesquisa, vinculado à criação e à investigação artísticas, que viria a ser conhecido nacionalmente.

A viabilização desse Departamento é de autoria de Décio Pignatari, que também foi seu primeiro diretor. Um instrumento contemporâneo na época, que em sua gênese aponta para o futuro. Em 1975, êle previa a organização e recuperação não mecânica da informação. Desde 1963, Décio estuda a questão da linguagem através da semiótica e das teorias da informação e comunicação. Esse trabalho está em plena sicronia com sua obra.

É de 1973, seu poema Noosfera*, que para além de sua concretude poética, aponta também, para a hoje chamada telesfera (documentos disponíveis na Web). Hoje, a prática eletrônica do pensamento já se realizou no cotidiano – a ferramenta digital, já está incorporada ao nosso sistema de percepção, fazendo parte integrante da nossa forma de assimilar, investigar, interpretar e recriar o mundo.

Para Décio Pignatari, em 1975, a Hemeroteca e Arquivo Multimeios significou célula básica para o Núcleo de Recuperação da Informação – o Banco de Dados, visando a implantação de sistemas de recuperação digital, com um modelo de documentação contínua, por 20 anos ao longo do tempo. Este trabalho continua sendo feito em bases semi-artesanais, tentando manter viva a informação ali depositada, ao longo do tempo, em sua diversificação de técnicas suportes e linguagens.

O Centro de Pesquisas foi em 1976 uma novidade institucional e cultural, que São Paulo apresentou. Os caminhos ali apontados e os possíveis percursos continuam sendo únicos.

O acervo do IDART se configura hoje como produto de 32 anos de pesquisa e documentação, construído na relação e confronto entre a natureza do objeto analisado e sua relação com a natureza do instrumento de leitura, gerados pelo próprio objeto e sua compreensão. Com reconhecimento ou recusa deste princípio, o trabalho se realizou ao longo do tempo e sua importância se legitimou e é única.

A forma de seleção e organizaçãp do material para esta mostra surge da grande quantidade de documentos armazenados neste Acervo. Como toda quantidade, instiga o crivo para a qualidade. Apresentamos o material em diferentes suportes, para que os documentos se mostrem em sua singularidade e diversidade, dispostos em linha do tempo, um fio condutor que permite foco nos objetos, e ao mesmo tempo propicia relações entre êles.

A disposição simultânea, visa uma espécie de mostruário, apontando para uma possível tipologia. Depois de conviverem separados por área de conhecimento por tanto tempo, nós os devolvemos ao espaço público de exposição, na situação em que foram coletados, retiramos dêles o confinamento para que tambén se relacionem entre si, nesta mostra.

Todos os profissionais do atual Arquivo Multimeios do CCSP, participaram ativamente da seleção dos documentos mais significativos em suas áreas de especialização, assim como do projeto e da produção desta mostra.

Desde o primeiro momento, impôs-se como uma grande citação e homenagem, a visualidade das edições do Laboratório Gráfico do Idart, que impõe sua atualidade em relação aos meios de produção atuais. Sua personalidade gráfica foi delineada por Cláudio Ferlauto, Décio Pignatari e Fernando Lemos, em 1975. Desenvolvida e aplicada pelo próprio Fernando , até 1978. Para essa vestimenta, nos permitimos algumas licenças que o tempo, a tecnologia e as condições de produção impõem, ou permitem.

Esta mostra é portanto esse mostruário aberto , um testemunho e um registro discreto, do pensamento e do fazer cotidiano de profissionais que, ao longo de 32 anos, seja qual for o vínculo com o Idart, ou sua intensidade, dedicaram a intregridade do seu trabalho ao projeto e tornaram possível este Acervo e o seu futuro.

Nós nos incluímos entre êles.

São Paulo, maio de 2007