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Prefeito visita o Idart. O Estado de S. Paulo, 13.10.1976, p.11.
(texto integral)

Prefeito visita o Idart

O prefeito Olavo Setúbal, acompanhado pelo secretário Sábato Magaldi, visitou na tarde de ontem, o Departamento de Informação e Documentação Artística – Idart – que, sob a direção de Maria Eugenia Franco, há cinco meses vem funcionando vinculado à Secretaria Municipal de Cultura. O principal objetivo do Departamento é a documentação e preservação de todas as manifestações artísticas, através de filmes, gravações, slides, fotografias e depoimentos que, brevemente, irão constituir um ‘banco de dados’, de livre acesso da população, para consultas e pesquisas.

Atualmente, o Departamento agrupa uma equipe de 30 técnicos pesquisadores, atuando nas áreas de Arquitetura, Artes Cênicas, Artes Plásticas, Arte Popular, Cinema, Comunicação de Massa – envolvendo Imprensa, Rádio, Televisão e Publicidade -, Desenho Industrial, Literatura e Semiótica, Música e Som.”



Fonte:
Prefeito visita o Idart. O Estado de S. Paulo, 13.10.1976, p.11.

1978: Maria Eugenia Franco – prefácio da série Pesquisa

Em 1978, para o lançamento da série Pesquisa, ambicioso conjunto que registra parte da produção do IDART, iniciada dois anos antes, Maria Eugenia Franco, diretora do departamento, escreve o prefácio das publicações. Aqui, de forma sucinta, registra os passos inicias da documentação e pesquisa em arte e comunicação propostas pelo projeto.

Revela-se um conjunto ambicioso de publicações, anuários e outros produtos, bem como surgem a marca dos primeiros diretores do Centro de Pesquisa – Décio Pignatari e Paulo Emílio Salles Gomes.

Extraída do volume:
DIAS, Linneu. Corpo de Baile Municipal.
São Paulo: IDART, 1978. Pesquisa, 2, p.5-6.

Foram mantidos os negritos e caixas altas do original,
bem como a ortografia de época.

“O Centro de Pesquisas de Arte Brasileira do IDART foi criado a partir de um princípio da história, a para-história, no qual o pensamento de uma época se revela como a contribuição mais legítima e mais viva para o estudo da evolução de uma comunidade. Os trabalhos que realizamos têm a função de investigar e preservar a memória artística nacional do presente e do passado, um dos elementos e fundamentos comprovadores da dinâmica cultural do país.

Nossa filosofia do agir e atuar apoia-se numa noção de ‘arte’ fundamentalmente estética. Em consequência, multidisciplinar e interdisciplinar.

Abrangemos as várias disciplinas artísticas e as que com estas se relacionam: arquitetura e urbanismo, artes cênicas, artes gráficas, artes plásticas, cinema, comunicação de massa (imprensa, rádio, televisão, publicidade), desenho industrial, literatura e música.

Vemos a arte como objeto/fato-criação-intuição e como teoria-conceito-pensamento. Acolhemos todos os códigos e linguagens de produções artísticas. Admitimos as diversas correntes teóricas que as analisam e interpretam, porque todas enriquecem o conhecimento crítico e fenomenológico de suas raízes mais profundas.

A partir de 1976, iniciamos o estudo sistemático e programado das artes nacionais, a pesquisa da invenção, da criatividade brasileira, sob ângulos vários de suas muitas faces e interfaces. Em todos os campos e subcampos procuramos investigar as expressões criativas eruditas, indígenas e populares.

Tomando como corpus geral das pesquisas as manifestações de arte que surgem no Brasil, o IDART as estuda a partir de uma coletividade – São Paulo e do eixo cultural São Paulo-Rio, quando se verificam cruzamentos de influências entre os dois centros. É esta uma opção de natureza econômico-pragmática e, ao mesmo tempo, uma experiência consciente de estética sociológica.

Toda grande cidade é fonte e lago. Gera, produz, mas também recebe várias forças culturais vindas de outras nascentes comunitárias.

São Paulo revela possuir particular interesse e riqueza, quando utilizada como base de investigações sobre arte contemporânea brasileira, porque é uma cidade-pólo, de onde emergem e por onde passam alguns dos principais acontecimentos artísticos de origem nacional / estadual e internacional. Sofre também influências étnicas diversas, por intermédio de suas grandes colônias estrangeiras.

Neste ‘laboratório’ estético, os trabalhos desenvolvidos pelos pesquisadores das Áreas e Sub/Áreas do Centro de Pesquisas do IDART dividem-se em dois setores paralelos: documentação de eventos e pesquisas temáticas. Desses trabalhos resultam atividades editoriais e o Arquivo Multimeios.

Destinado ao uso interno è à consulta pública, o Arquivo é o reservatório do produto global das pesquisas e doações recebidas. ‘Memória latente’ para estudiosos de hoje e do futuro, concentra vários mídia de registros documentais: processos cinéticos, fotos, fitas magnéticas gravadas e transcritas, informes inéditos, folhetos, catálogos, programas, cartazes, etc.

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No plano editorial, ‘memória dinâmica’, além dos projetos multimeios – exposições didáticas e documentais, filmes, audiovisuais, vídeo tapes, gravações sonoras – programou o IDART livros, álbuns, revistas, anuários, boletins.

Dos estudos temáticos surgirão as coleções PESQUISA e DOCUMENTO VIVO, cujos primeiros volumes entraram em processamento gráfico no início de 1978. Lamentamos o atraso de seu lançamento, explicável pelos sofridos bloqueios e meandros da burocracia.

Essas coleções propõem o estudo da arte brasileira em São Paulo com abordagens sincrônicas e/ou diacrônicas. Do presente e do passado serão divulgados documentos e informações, narrativas historiográficas e a metalinguagem dos fatos e objetos estéticos, no universo da realidade brasileira.

Os eventos artísticos da atualidade são preservados tanto seletivamente, nos ANUÁRIOS das Áreas, quanto genericamente, nos BOLETINS da Hemeroteca, setor especializado do Arquivo Multimeios. Esse setor cataloga as páginas de arte da imprensa brasileira cotidiana e periódica de São Paulo-Rio e, quando possível, de outros Estados. Trabalho diário sistemático será editado em fascículos a partir de 1979. Quanto aos ANUÁRIOS, destacam as realizações e atividades mais significativas das Áreas artísticas, no contexto sócio-cultural da cidade. Apresentam sínteses, dados referenciais, fixando a situação do fato no próprio instante em que ocorre. Transmitem a imagem de segmentos das artes em São Paulo, no panorama de nosso momento. Serão ‘fontes primárias’, no futuro.

No que se refere à produção das Equipes Especializadas, o princípio ético e profissional estabelecido pelo Diretor do IDART e Diretores do Centro de Pesquisa tem sido o de incentivar a autogestão das Áreas, desde que existem especificidades tipológicas em cada uma. Evitamos o dirigismo cultural, respeitando a plena liberdade de expressão. Procuramos estimular a consciência da responsabilidade individual do pesquisador, como autor do trabalho científico, tanto no texto quanto nas várias etapas das tarefas de campo, o que tem resultado num processo salutar de seleção espontânea.

Os critérios básicos e a programação global/orgânica têm sido estabelecido pelos Diretores, ouvido o Conselho de Pesquisas, formado pelos Supervisores de Áreas, Assistente Jurídico e Assistentes Técnicos.

Esta série inicial de publicações corresponde ao período 1976/77, em que Décio Pignatari, então Diretor do Centro de Pesquisa do IDART, programou para todas as Áreas uma temática geral: ARTE EM SÃO PAULO, DENTRO E FORA DO SISTEMA, ‘no sentido de registro e análise não só de manifestações institucionalizadas, como também de manifestações culturais marginalizadas’, segundo palavras do autor do projeto.

Com a saída voluntária de Décio Pignatari, Paulo Emílio Salles Gomes, assumindo o mesmo cargo, acompanhou o término das pesquisas, em seu último trabalho de direção cultural.

Verbas insuficientes nos impediram de realizar o programa da série DOCUMENTO VIVO, que divulgaria o grande e precioso volume de registros e informes sobre arte brasileira coletados e produzidos pelo Centro de Pesquisas, em suas oito Áreas. Com a assistência técnica de Fernando Lemos, para exame das possibilidades gráficas, decidimos lançar os ANUÁRIOS – projeto de Paulo Emílio – e iniciar a coleção PESQUISA. Escolhemos juntos os temas ainda não abordados em livro, ao menos sob os ângulos focalizados pelo IDART.

Representam estes trabalhos o testemunho de jovens pesquisadores, documentando, narrando e/ou analisando a arte de nosso meio e nosso tempo.

Maria Eugenia Franco
IDART – Diretora”